Pedro Sertão Silva

Pensamentos, reflexões, exposição de ideias, imagens...Uma visão num ângulo particular. No sertão da Paraíba fazendo o bem.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Sorrindo

Sorrindo


Se algum dia eu lhe parecer
exagerado, ao falar de você,
em uma mistura de alegria;
com uma pontinha de medo.
É difícil esquecer
quando se amar.
E se você estava sorrindo
como se ainda fosse criança,
sem precisar de um motivo
ou uma filosofia de felicidade;
lembre-se: eu só precisei
disso para sorrir também.
Se foram tantas às vezes
que a vida se complicou (sem motivo)
e eu só precisei de você
para me juntar novamente.
Chorei, é porque sabia que
sensibilidade não é fraqueza.
Se estou entre mil pessoas
e mesmo assim me sinto sozinho
ao querer estar com você.
Isso não deve ser sem motivo
e talvez seja por sentir a sua falta,
a sua presença me faz bem.
Se em cada ausência sua
eu guardo a sua lembrança
assim, como um leve carinho,
e fico sofrendo, aqui, quietinho,
é para que você volte e apague
toda essa saudade que me causou.
Se tantas vezes eu quis impressiona-la,
Lhe dei rosas, escrevi cartas,
me desdobrei em dois, três e mais pessoas,
esforcei-me para fazer o melhor,
sem nunca conseguir explicar metade
do que uma lágrima minha lhe diz.
Se em cada um desses momentos,
sejam eles tristes ou felizes,
uma pequena parte de mim ficou em você
assim como você ficou em mim.
Com muito carinho: eu gosto de você.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Uma crente morreu de fome. E eu com isso?

 Num município minúsculo e paupérrimo do sertão da Paraíba uma senhora morreu por causa da subnutrição aguda que lhe atingiu em conseqüência da ausência quase total de alimentação em sua casa. E isso foi divulgado amplamente como denuncia pela Juvep. Uma senhora evangélica de Curitiba, em estado de choque, querendo resposta que explicasse esse lamentável fato, já que se tratava de uma serva de Deus, nos escreveu buscando resposta(s).


Crentes morrem atropelados, vítimas de assalto, queda de avião, afogado, de câncer, falta de atendimento em hospitais públicos... Há até casos de raios que caem e matam servos de Deus.
... Alguns morrem de fome...


O que nos diferenciam de um não crente, fundamentalmente é que temos a salvação e, por conseguinte vamos reinar de forma plena com o Senhor quando da sua vinda....


A irmã não pode ser considerada mártir. Ela não morreu conscientemente pela causa do evangelho, nem morreu por que confessava a Jesus como seu único salvador. Não foi vítima clara de perseguição religiosa. Ela morreu por causa da injustiça social, da corrupção que assola esse país, também da omissão de boa parte da igreja brasileira que repete e imita àqueles que controlam o poder econômico. Seguimento egoísta, acumuladora de capitais, materialista e excessivamente consumista, contribuinte também e mantenedora da industria de supérfluos com etiquetas e design "belissimamente" impressionantes. Vítima de distorções teológicas, de pregações superficiais, atrofiadas ou cheias de acréscimos perniciosos ao evangelho, do pecado que assola de uma forma profunda, forte e brutal à sociedade brasileira. Igreja evangélica que é, em grande parte omissa, volúvel... dispersa, desunida, não sabe encarar seus defeitos com maturidade. Fragmenta-se em infindáveis pedaços. 
Pobre e frágil igreja evangélica nacional.
Quantos irmãos não estão desempregados, endividados, falidos, amordaçados, "amarrados", passando necessidades? As vezes membros de igrejas onde grande parte tem um poder aquisitivo de fazer inveja.


Algumas tendências no meio cristão afirmam que toda dificuldade financeira, miséria, fome é causada por pecado ou falta de fé individual (da vítima), a parte da sociedade detentora do poder financeiro alega que os pobres são pobres porque são preguiçosos. Isso é simplismo, fruto de mentes alienadas, um falso desencargo de consciência legitimador de um genocídio silencioso que assola a nossa nação.
Há muito mais injustiça, opressão, descaso e omissão em nosso meio.

Denunciemos, oremos, profetizemos.

sábado, 7 de novembro de 2009

Os Crentes Protestantes Não Podem Protestar

Não podem! Os crentes, protestantes, evangélicos, cristãos não-católicos... No Brasil: Não podem lutar contra o racismo, nem contra a injustiça agrária; Não podem sair em passeatas protestando contra a fome, a miséria, a violência; Não podem denunciar corrupção, máfias; Não podem profetizar contra as autoridades constituídas corrompidas; Não podem questionar, refletir...
  
   Frases comuns e pensamento dominante em nosso meio, pecado corriqueiro... Valores próprios da classe média conservadora, corporativa, reacionária, preconceituosa, prevalecente na igreja dos crentes, protestantes, evangélicos, cristãos-não-católicos...
  
   Nas igrejas históricas, destacadamente burguesa e esbranquiçada: tudo em nome da tradição. Lembro-me das igrejas americanas que ainda hoje segregam, ou das igrejas do século XIX para trás, legitimadoras da escravidão.
  
   A igreja católica romana historicamente relutou muitos anos para afirmar que o negro tinha alma. A igreja dos crentes, protestantes, evangélicos, cristãos-não-católicos, legitimando a injustiça social, sempre foi aliada da classe dominante, injusta e cruel (com ilhas de exceções).
  
   Nas denominações pentecostais e neo-pentecostais, os excluídos ou filhos de excluídos ascendem com o talento da eloqüência nos púlpitos.
  
   Pretos, cafuzos, caboclos, mestiços que se adaptam ao sistema como cordeiros inofensivos. Na pior (melhor) das hipóteses, só exploram a prole, a ralé incauta.
  
   Massa de manobra subserviente, faz a “fezinha” ofertando como quem joga na loteria. Massa utilizada também pelos políticos profissionais, destruidores paulatinos da nação.
  
   “Temos que ser dóceis, cordiais, humildes”. “O exemplo de João Batista e de Jesus, questionando o sistema político e religioso, não é para hoje”. “Temos que nos calar e sermos simpáticos, se não eles vêm e nos matam nos prendem, nos perseguem, nos exterminam.”
  
   “Precisamos preservar a nossa "liberdade religiosa e de expressão". Afinal de contas, está tudo bem... Não há o que denunciar, não há tantos crimes, roubos, estupros, desvios de dinheiro público, imoralidades sexuais, miséria, fome, medo, falta de assistência médica para as crianças, velhos, operários, tantas favelas, tanta tristeza, lágrimas, pedofilia, idolatria, meninos de rua, fome, mortalidade infantil, genocídios. E o que existe não é de nossa conta.
  
   Além do mais tudo isso é conseqüência do pecado. “Vamos cantar, vamos louvar e, claro, evangelizar, se quiserem vir às nossas igrejas, serão libertos.” “Somos cidadãos do céu, não temos nada a ver com isso.”
  
   “O exemplo dos profetas que denunciavam injustiça social não é para hoje”. As denuncias de Tiago não são para hoje. "Cuidado! não mexa, não vale a pena. Você é carnal, socialista, comunista, rebelde." Os crentes fizeram um pacto com o diabo: “Ele (Satanás) não mexe com a gente e a gente não mexe com ele.”
  
   Mas ainda não é o fim...
  

terça-feira, 22 de setembro de 2009

O pastor e o espelho

Quando da série Pré-Reflexão do IV Encontro de Pastores e Lìderes no Sertão, alguns líderes foram desafiados a escreverem vários artigos pertinentes ao tema. Um deles foi o poema abaixo. Externa a crise dos vários líderes sertanejos, como uma colcha de retalhos; pedaços-aspectos de limitações e conflitos.

O pastor e o espelho

Eu me vejo em um beco sem saída
Sem perspectiva. O que quero fazer não consigo.
Quero dar o melhor aos meus filhos, mas só tenho a agressividade, a ausência de dialogo, o autoritarismo.
Sinto-me só, não tenho apoio denominacional, não tenho apoio dos colegas de ministério local.
Sinto-me ameaçado pelas Potestades, as hostilidades vêm de todas as partes. Dentro de mim, fora de mim.
Não controlo meus pensamentos: imagens ruins, idéias ruins, sonhos ruins.
O medo quer me possuir.
Medo de errar, medo de ser rejeitado, medo de passar fome, de ser humilhado, de enfermidades, de meus filhos se desviarem, das filhas engravidarem. Medo de dívidas, medo da depressão.
Quero fumar. Estranho fazem 22 anos que deixei.
Não confio em ninguém, poupo a esposa de meus conflitos. Ela está depressiva, ela quer ir embora. A nossa prática sexual está quase falida. Não consigo satisfazê-la. Ela tem bloqueios, acha o sexo imundo. Acho que ela não sabe o que é orgasmo. Nem sabe o que é, e nem sentiu.
Não sei dialogar, não sei externar amor.
Tenho inveja de meu vizinho. Ele parece ser feliz, parece ganhar mais do que eu. Talvez fosse melhor não ter me convertido.
Parece que ser crente não vale a pena.
Sinto-me desmotivado. A igreja não cresce. Os convertidos não crescem.
Sinto-me desprezado pelo vizinho, pelo prefeito, pelos comerciantes, pelo motorista de táxi, pelo engraxate...
Sinto-me abandonado por Deus.
Estou tentado à prática da masturbação, lembro-me que era escape emocional na minha mocidade.
Quero beber, embriagar-me, fugir da realidade.
Não tenho mais vontade de orar. Não sinto a presença de Deus há muito tempo.
Acho que esqueceram de mim, ninguém me entende.
Tenho profunda tristeza. Estou só. Sinto-me incompreendido.
Quero gritar. Quero chorar.
Tenho saudade do tempo que vendia eletrodoméstico. Saudade da carteira assinada. Saudade da falta de maiores responsabilidades.
Tenho dormido mal, mal estar, maus pensamentos, sentimentos.
Preciso de um ombro para chorar, ouvidos atentos para falar.
Tenho medo de me tirarem daqui, de me cortarem o salário.
Não sei o que fazer. Quero desistir. Quero morrer...
Tenho que reagir.
Vou escovar os dentes, fazer a barba... O culto vai começar.
Espero que não notem que chorei. Preciso melhorar o sorriso.
Até logo mais espelho.