Só os que renunciam fazem grandes obras
At.20.24
Pr. Pedro Luis
1. Sttot, Jonh R. W. – A mensagem de Atos p.368
Uma pergunta inicial: O que leva alguém a dar sua vida por
uma causa? Se existe algo precioso para uma pessoa é a sua própria vida. Isso é
natural. O nosso instinto de sobrevivência é muito forte. A necessidade de
preservação é instintiva, faz parte de nossa estrutura como ser vivo-animal, de
ser vivo-intelectual-espiritual. É preciso que haja fatos gravíssimos para
desvalorizar a vida e passar-se a negligenciá-la, ou pior, a tirá-la.
Quando alguém pratica o suicídio, quase sempre é porque
estava passando por uma profunda crise existencial, vítima de uma grande
decepção durante a sua caminhada, perdeu o referencial de vida, perdeu-se no
emaranhado caótico de conceitos, referenciais e percepções distorcidas de vida.
Numa abordagem positiva: pode-se cometer, se for
necessário, até o suicídio por uma causa
maior que a existência. Sendo motivado
por uma consciência de que a própria morte vai ajudar um determinado fim. São
pessoas que descobrem lutas, ideais, onde, à medida que vão se
envolvendo, adentrando, conhecendo a causa, se comprometem de uma forma tal que
a sua vida, passa a ser secundária, quanto mais seus bens materiais ou
interesses de poder ou de fama.
Sabemos de muitos casos em nosso meio, de milhares de
cristãos que morreram pelo fato de não negarem a sua fé, seu ideal, sua razão
de existir. O que leva uma pessoa a morrer por uma causa? Há poucos anos,
estando com um colega de ministério,
fiz-lhe uma pergunta, assim, num misto
de brincadeira e seriedade e à queima roupa: “Marcos o que você faria se
chegasse um anticristão aqui e, com um revolver em sua cabeça lhe desafiasse:
ou você nega a Jesus ou eu estouro seus miolos?” O irmão Marcos fechou o
semblante, baixou a cabeça, pensou por um instante, levantou a cabeça, olhou em meus olhos
firmemente e disse: se Deus me der graça, se o Espírito Santo me der força
naquele momento, eu direi que pode atirar, se quiser, mas negar a meu Senhor eu
não nego.
Anti Racismo: Uma Causa Nobre
Anti Racismo: Uma Causa Nobre
Fiquei refletindo por vários dias acerca da resposta que o
Marcos me deu. O que leva uma pessoa a morrer por uma causa? O que leva alguém
a abrir mão de todo um projeto de vida, uma carreira acadêmica, um casamento, a
abrir mão de todos os sonhos, a agir como o casal de missionários que entregou
os filhos para que estranhos os educassem? Foi o caso de um casal, missionário
em uma tribo na Amazônia brasileira, ao descobrir que os nativos receberiam a eles sem problema, mas não admitiam
a permanência de crianças brancas na aldeia. Esse casal, apesar do intenso
conflito, voltou para a sua igreja, relatou o fato e desafiou: “Quem pode criar
e educar os nossos filhos, eles não podem estar conosco naquela aldeia e Deus
nos enviou para evangelizá-la?”
Assisti ao filme “O Pastor” feito pela televisão americana. Contava a história de um reverendo
americano dirigente de uma igreja em
Montgomery, cidade do Estado do Alabama, no sul dos Estados Unidos da América.
Lá, nessa época, vigoravam leis segregacionistas absurdas e estúpidas, tais
como: pessoas de cor negra só podiam se sentar no ônibus coletivo na parte de
trás; se o ônibus estivesse lotado, era obrigado para o negro, não importando a
idade, ceder o seu acento a um branco. Os motoristas só podiam ser brancos. No
cinema, eles eram proibidos de assistirem aos filmes nas cadeiras da metade
para frente, essas eram estofadas e limpas, só nas ultimas fileiras com
cadeiras de madeiras e, tanto os assentos como o piso, sujos, apesar de pagarem
o mesmo ingresso que as pessoas de pele
branca, tanto no ônibus quanto no cinema.
Esse pastor
denunciou em seus sermões essas injustiças, inclusive com uma acusação forte,
através de vários sermões. Um deles tinha como título: “É SEGURO MATAR, E
ESTRUPAR NEGROS NO ESTADO DO ALABAMA” onde denunciou o estupro de uma
adolescente e a morte por espancamento de um jovem, ambos negros. Crimes
cometidos impunemente pela polícia branca local. A partir de então, passou a
ser perseguido e ameaçado de morte pela própria policia, também pela Kus-klus-klan
e ameaçado de prisão pelo juiz da cidade. Nesse
contexto, com forte pressão, chega um de seus colegas de ministério, um jovem
pastor, intrigado com tamanha ousadia e coragem, pergunta-lhe: “O senhor não
tem medo? A policia, a Kus-klus-klan e a justiça estão lhe perseguindo, alguns
querendo lhe matar. O senhor não tem medo de morrer?” Foi aí que aquele pastor,
acocorado, naquele momento, cuidando de sua horta, no fundo do quintal em sua
residência, olhou para cima, procurando a face do jovem e respondeu: SE VOCE NÃO TEM UMA CAUSA PARA
MORRER POR ELA, VOCÊ NÃO TEM UMA VERDADEIRA RAZÃO PARA VIVER!˝. Ele foi pastor naquela igreja Batista, na
avenida Dexter, imediatamente antes do Reverendo Martin Luther King Jr.
tê-la assumido, foi o precursor, o catalisador de um processo de resistência
pacífica naquela igreja Batista em Montgomery,
coordenado e dirigido pelo reverendo King, o mesmo que liderou, logo que
assumiu, um boicote contra a segregação nos ônibus. O movimento durou 381 dias
e terminou com a decisão da Suprema Corte Americana de proibir a discriminação.
King passou então a organizar campanhas pelos direitos civis dos negros,
baseados na filosofia de não-violência do líder indiano Gandhi. Em 1960,
consegue liberar o acesso de negros a bibliotecas, parques públicos e
lanchonetes.
Martin Luther King liderou a marcante Marcha sobre
Washington, que reuniu 250 mil pessoas em 1963. Ao fim dela, proferiu um famoso
discurso que começava com a frase "I have a dream" (Eu tenho um
sonho) e descreve uma sociedade em que brancos e negros vivem em harmonia. Da marcha,
resultou a Lei dos Direitos Civis (1964), que garante igualdade de direitos
entre brancos e negros. Recebe o Prêmio Nobel da Paz de 1964.
Um Ideal Para Segui-lo
Quando ouvi, no
filme aquela frase: “se você não tem uma
causa para morrer por ela, não tem uma verdadeira razão para viver”, senti a minha estrutura ser abalada de uma
forma tal que, chorei fortemente e passei a me questionar: qual nível de
entrega, de renúncia, que eu já tinha feito, proporcional à preciosidade, à
transformação, à libertação, à paz, ao gozo, à esperança que o evangelho havia
trazido para minha vida?
Alguns anelam o seu próprio bem estar. Investem as suas
energias em função de si mesmos; só se relacionam com outros se isso lhes
trouxer vantagens imediatas e egoístas, muitos desses vivem para comer, vestir,
usufruírem e, ao mesmo tempo satisfazerem os prazeres de sua estrutura animal.
Não investigam além do olfato, tato e visão, não especulam além da aparência.
Esses são tão ensimesmados que não conseguem enxergar outra coisa que não seja
seu umbigo. Como diria a música do grupo Ultraje a Rigor,sucesso nos anos 80:
˝Eu me amo, eu me amo, não posso mais viver sem mim!˝
Outros pensam, nessa
perspectiva também, mas não só em si, querem ajudar seus familiares, pelo menos
a parte da família mais íntima; os laços familiares são valorizados e, às vezes
se sente o máximo por isso; outros já idealizam melhorar o seu bairro, sua
cidade, sonham com seu país transformado, imaginam e desejam uma sociedade mais
justa, não se conformam com as injustiças sociais, com as guerras por
motivações ilegítimas, ou a exploração do homem pelo homem.
São capazes de
renunciarem a prazeres, dedicarem a maior parte de seu tempo ao ideal, se
sacrificam pela causa, vêem nela um sentido para a vida. Se for necessário,
empunharão armas. Ainda outros sonham com todo o planeta transformado, percebem
a humanidade como um povo só, sem fronteiras, a espécime human unida, as
barreiras linguísticas não são empecilhos para a unidade, o sentido da vida
para esses é um mundo mais justo, um planeta sem barreiras, com fraternidade,
liberdade, igualdade e justiça. Esses são perfeitos para a guerra, para lutarem
por uma causa justa, são preciosos em qualquer Segmento ,
seja revolucionário ou não.
Qual líder não gostaria de ter um discípulo pronto para
morrer por uma causa? Para esses, o mais precioso, o mais valoroso é a causa,
não os interesses individuais ou mesmo nacionais. Quantos comunistas não
sucumbiram em campos de batalhas, em guerrilhas urbanas, ou rurais, aqui mesmo
no Brasil? Milhares de advogados, comerciantes, médicos, profissionais liberais
em geral perderam suas vidas na
revolução francesa. A burguesia lutando por seus direitos junto aos
trabalhadores do campo e da cidade, de uma forma geral, contra a tirania real
que oprimia a França de uma forma terrível. Semelhantemente, muitos morreram na
guerra de independência nos Estados Unidos. O ser cerceado de direitos e da
liberdade também pode despertar sentimentos de luta e resistência em pessoas
“comuns˝ mais forte do que a própria vida.
Voltando ao irmão Marcos e sua resposta: ˝se o Espírito
Santo me der graça...˝ Quantos não morreram e morrem pela causa do Islamismo?
Não é difícil testemunhar a atitude de milhares de pessoas engajadas nessa
religião. São milhares de pessoas de várias idades, prontas a abrirem mão de
seus confortos, de seus bens. É fácil ver jovens árabes, com seus corpos
repletos de bombas, prontos para morrerem pela causa do Islã. Com certeza nem
os comunistas, nem os seguidores de Mohamed não eram nem são impulsionados pelo
Espírito Santo para darem a sua própria vida por suas causas. O que levava uma
Testemunha de Jeová a não negar a sua
fé, mesmo em meio ao terror, frio, tortura, nas prisões gélidas da Sibéria, na
época da perseguição comunista às ditas seitas defensoras do capitalismo
presente na antiga União Soviética? Não era o Espírito Santo com certeza.
O Comunista Desiludido
Na primeira Guerra
Mundial, um ex-comunista, depois de ter ouvido o evangelho pregado por um
soldado inglês e ter aceitado a Jesus como Senhor e Salvador pôde experimentar a maravilha que é o novo
nascimento. Observando a postura e o nível de compromisso que as pessoas em
países cristãos têm, refletiu com o seu
mestre inglês: Os comunistas dariam suas
vidas para avançarem o comunismo nem que fosse por um quilômetro, vocês
cristãos conhecem e usufruem a maravilha que é o Evangelho e vivem como se nada
de especial fosse para a vida de vocês.
Os comunistas vivem em função do ideal socialista, doam
todos os seus bens em favor do partido e ficam com as sobras; percebo que com
os cristãos é o contrário, vocês doam as sobras e ficam com a maioria de seus
recursos. Os comunistas autênticos
vivem uma mentira como se fosse a maior verdade, os cristãos conhecem a
verdade, mas é como se fosse irreal e distante.
Será que, a exemplo do que aconteceu com algumas igrejas na
Europa, estamos mitificando o evangelho? A teologia liberal relativizou e reduziu a essência do evangelho a um
racionalismo humanista, colocando-o num cabresto limitado, humano. O resultado:
vários templos, em países europeus, esvaziados, abandonados e sendo vendidos,
na maioria das vezes, para serem mesquitas mulçumanas.
O Reducionismo Nocivo
do Evangelho
Em nossa realidade evangelical sobre forte influência de
tendências, ditas evangélicas, americana, segmentos pretensamente cristãos têm
distorcido e adequado esse evangelho ás suas conveniências. Uma proposta
antropocêntrica, onde o Deus todo poderoso está ao inteiro dispor, satisfazendo
os interesses carnais, conveniências
atreladas a valores consumistas, legitimando o status-co limitado,
antibíblico. Uma teologia de conveniências, alienada de todo e qualquer
compromisso com ‘o outro’, com o bem estar do próximo. “Arcabouço doutrinário”
desprovida de qualquer senso de justiça social.
Uma proposta triunfalista, individualista, legitimadora da
exploração do homem pelo homem. Expressam-se assim: “O pobre é pobre porque é
preguiçoso ou está em pecado; o rico é rico porque é trabalhador e tem a benção
de Deus pode explorar a mão de obra barata. É melhor do que deixar a ralé
passar fome”. Isso
é simplismo, fruto de mentes alienadas. Um falso desencargo de consciência que
pretende legitimar o genocídio silencioso
que assola a nossa nação. Uma visão conservadora que tem ferido,
excluído e estimulado fragmentações em grande escala no segmento evangélico.
Facção que endossa a exploração injusta do homem pelo próprio homem.
A acusação contra a injustiça social profetizada por Tiago
nos capítulos 2 e 5 denuncia fortemente essa realidade dessa parte da igreja brasileira. Igreja
que repete e imita àqueles que controlam o poder econômico. Segmento egoísta,
acumuladora de capitais com motivações
volúveis, materialista e excessivamente
consumista, contribuinte e também mantenedora da indústria de supérfluos com
etiquetas e design "belissimamente impressionantes”. Essa tendência no
meio evangélico é agente de pregações superficiais, atrofiadas ou cheias de
acréscimos perniciosos à Palavra; não combate o pecado que assola de uma forma
profunda, forte e brutal a sociedade brasileira. Parte da igreja evangélica que
é, em grande parte, omissa, volúvel... dispersa, desunida, não sabe
encarar seus defeitos com maturidade. Fragmenta-se em infindáveis pedaços.
Essas e outras análises nos fazem compreender como são
raras, no Ocidente, pessoas
verdadeiramente comprometidas com o reino de Deus. São escassos os exemplos
contemporâneos de testemunhos genuínos. Talvez, quem sabe, uma perseguição
violenta depure essa realidade.
Quantos dos ditos cristãos confessos confirmariam a sua fé
em meio a uma oposição violenta tendo que abrir mão de seus privilégios,
conveniências, confortos?
Quantos estariam dispostos a ir para o subterrâneo, para os
esgotos, para os esconderijos longe dos grandes centros, dos perfumes, roupas e
automóveis confortáveis?
Quantos dos que
ainda não chegaram, na escala de ascensão social, à capacidade de adquirir os
bens que irão promovê-los a um nível mais alto, na pirâmide de poder
aquisitivo, “descente e digno de um servo de Deus”, renunciarão aos seus sonhos
sociais por causa da fidelidade a Jesus?
As instituições denominacionais, que pretensamente se dizem legitimas
representantes de Deus na terra têm pregado um evangelho fácil, desvinculado de
renúncias, deslocado da cruz, com uma santidade relativa.
Legitimam a injustiça social, são omissas ao genocídio
lento e silencioso que ocorre no Brasil, onde a violência, fome, falta de
assistência médica, falta de assistência educacional, desagregação da estrutura
familiar, dentre vários outros problemas, têm levado a nossa nação para uma
seqüência de abismos cada vez maiores e mais profundos.
Noutra face da mesma moeda eclesial tem se proposto uma
relação com Deus baseada em regras, leis. O pode e o não pode, dando capas
fáceis de vestir, sem, contudo trabalharem o interior, não valorizando e
ensinando a transformação de caráter. Estimulando uma relação com Deus baseada
em troca, medo (inferno se for mal, céu se for bonzinho), descaracterizando a
Graça e a Misericórdia tão óbvias no projeto executado na cruz.
Como o rebanho poderia ou poderá enxergar a verdade do Evangelho se seus-nossos
líderes orientam dessa forma? Não temos a consciência da verdadeira face do
cristianismo. Essa revelação desfocada, reduzida, tem comprometido a
valorização do evangelho, impedindo a percepção do maravilhoso e espetacular
projeto de Deus para toda a humanidade. Quem irá renunciar por uma causa que
não tem nenhum propósito a não ser o de
“adular” o seguidor, promovendo em sua vida, tudo de confortável que se
precisa? Não podemos valorizar uma
causa que se limita a nos dar uma vida confortável na terra, atendendo às
nossas necessidades básicas e nada mais, porque, no fundo, sabemos que isso não
nos preenche como gente. Apesar da queda, somos imagem e semelhança de Deus.
Paulo e Seu Ideal de Luta
Paulo conheceu, percebeu a sublimidade do evangelho (At. 20.24). Ele não titubeou ao saber pelo Espírito, que teria de ir a Jerusalém, sem receber maiores esclarecimentos a não ser de que passaria por prisões e sofrimentos (At. 20.23). A sua Maior preocupação não era sobreviver a todo custo, mas terminar a sua carreira e completar a tarefa recebida de Cristo: testemunha o evangelho da graça de Deus. Jonh R. W. Stott, em seu livro The Message of Acts (A Mensagem de Atos) analisa assim essa passagem: “Os olhos proféticos de Paulo transpõem Jerusalém e os sofrimentos, pelos quais passará naquele lugar e vêem as suas visitas missionárias a Roma e Espanha, com que continua sonhando. Essa deve ser a razão de Paulo ter tanta certeza que não verá nenhum deles novamente (At 20.25)”1
Paulo e Seu Ideal de Luta
Paulo conheceu, percebeu a sublimidade do evangelho (At. 20.24). Ele não titubeou ao saber pelo Espírito, que teria de ir a Jerusalém, sem receber maiores esclarecimentos a não ser de que passaria por prisões e sofrimentos (At. 20.23). A sua Maior preocupação não era sobreviver a todo custo, mas terminar a sua carreira e completar a tarefa recebida de Cristo: testemunha o evangelho da graça de Deus. Jonh R. W. Stott, em seu livro The Message of Acts (A Mensagem de Atos) analisa assim essa passagem: “Os olhos proféticos de Paulo transpõem Jerusalém e os sofrimentos, pelos quais passará naquele lugar e vêem as suas visitas missionárias a Roma e Espanha, com que continua sonhando. Essa deve ser a razão de Paulo ter tanta certeza que não verá nenhum deles novamente (At 20.25)”1
Ninguém renuncia a algo se não por uma alternativa melhor,
realidade melhor, ou vantagens no sentido amplo do termo. Isso é óbvio e faz
parte da natureza humana.
A questão aqui é o que tem verdadeiramente valor. Jesus não
sugeria o perder a própria vida (Mt 10.38,39), nem que para ser o maior teria
que ser o menor, nem tampouco orientava o ser servo (Mt 9.48; Mc 10.43-45) com
um propósito de confundir as mentes. Também não intencionava promover provas de
fidelidade relacionadas a renúncia numa relação direta entre esforço e prêmio,
mas Jesus apresenta uma proposta libertadora baseada em valores elevados,
divinos que proporcionam o desvencilhar de valores que para o homem natural é
importante, mas para os seguidores de Cristo
empecilho numa caminhada como discípulos de um Mestre de um outro reino.
Valores divinos, trazidos pelo próprio Deus criador, não se
comparam com absolutamente nada que o homem possa vislumbrar, valorizar ou
usufruir como bem (Ef 3.21).
Paulo renunciou ao que ele chamou de perda: a
sua nacionalidade, a sua religião e facção religiosa, sua coerência e empenho
no zelo a Lei (Ef 3. 4-8). Ninguém passaria pelos sofrimentos que Paulo passou
(2Co 11.22-30) se não tivesse uma consciência perfeita a quem servia e qual o
fim daqueles que perseveram até o termino da missão (1Co 9.23-27).
O mundo jaz no
maligno(Gl 1.4). O príncipe dessa era é Satanás (Ef 2.1,2). O Reino de Deus
ainda não é absoluto em nosso tempo, no sentido escatológico. Ninguém serve ao
Senhor Jesus nessa era, sem oposição feroz (1Pe 2.19-25; Jo 16.33). Querer
sombra e água fresca agora é ter uma percepção distorcida das promessas. A
grande maioria delas é para o porvir, promessas escatológicas, as quais o
apóstolo Paulo tinha como motivação para a continuidade da caminhada,
alimentando-se dessa expectativa do gozo vindouro (Rm 8.18,19).
Os exemplos de personagens
bíblicos trazidos pela igreja em nossos dias são escolhidos com muito cuidado
devido à preocupação em legitimar determinadas teologias que colocam
o homem no centro (antropocentrismo) num
reducionismo teológico perigoso.
Uma “teologia” que tenta
erguer um deus menor (ídolo) a serviço
dos interesses do homem, baseada em
determinadas passagens do Velho Testamento e coloca a nova aliança também
atrelada a esse arcabouço teológico-doutrinário, relegando referências bíblicas
aos porões escuros do estudo (Hb 10.1; 2Co 3.8-16; Hb 7.22; 8.7-13), tanto no
VT quanto no NT, que são fundamentais para um entendimento correto da Palavra
de Deus.
Temos visto novos escritos com
peso de Escritura surgindo aos montes desde as ultimas décadas do século XX,
adentrando o século XXI. Tem sido freqüente a expressão: “Não se pode ler a
Bíblia com entendimento, sem ler o nosso livro ou nossa apostila”
João Batista O Maior dos Nascidos de Mulher
Quantos
poderão hoje afirmar que João Batista é
referencial, realmente é o maior dos nascidos de mulher conforme Jesus afirmou
em testemunho acerca de sua pessoa (Mt 11.11)? Pouco se fala, se prega
acerca de João. Para muitos não é um bom exemplo, não é conveniente se falar de
alguém tão esteticamente “alternativo”, tão desprendido, pessoa que parecia
desprezar a aparência; a sua alimentação era básica e simples demais (Mt 3.4).
O que levou João a abrir mão de seus
direitos de herança na qualidade de filho de sacerdote? Ele poderia vestir-se do
fino linho e se banquetear das iguarias do templo.
João Batista O Maior dos Nascidos de Mulher
Depois de 400
anos de silêncio profético surge um profeta que não freqüenta o templo, não usa
sua prerrogativa de sacerdote, é cheio do Espírito Santo desde o ventre da mãe
(Lc 1.15). A sua missão era a de ser o arauto, o abre alas para a eminência da
chegada do Messias, do Santo de Deus, do Salvador do Mundo. Sua missão era
advertir, ele bradava: “arrependam-se pois o reino de Deus está próximo!” (Mt
3.1).
Meditar acerca
de João é se deparar com um personagem singular no Cristianismo. A sua
humildade revelada na sua perfeita
consciência de quem ele era, apesar da pressão de muitos que o confundiam com o
Messias, isso poderia tê-lo deixado soberbo. Ele se enxergava, sabia quem era e
qual a sua missão, os seus limites, fator importante, fundamental para
produzirmos na função certa no Corpo de Cristo. Quem somos? Quem
eu sou?
(Mt 3.11-17).
Houve
necessidade de renúncia, João abriu mão das
regalias naturais como herdeiro do sacerdócio de seu pai Zacarias.
Ao invés das iguarias do templo, mel e
gafanhoto; ao invés das elegantes roupas de puro e fino linho próprias dos
sacerdotes, vestia uma roupa grosseira feita de pelo de camelo; ao invés da
proteção, ostentação promovida pela
guarda do templo, o seu refúgio era em cavernas no deserto. O templo
estava tomado por hipócritas, os quais João chamava de raça de víboras (Mt 3.7)
a exemplo de Jesus que também os chamava de sepulcros caiados (Mt 23.27),
pessoas legalistas, escravas da aparência, da vaidade da ambição por dinheiro,
reverência, honra e fama(Mt 23.1-7).
Pr. Pedro Luis
1. Sttot, Jonh R. W. – A mensagem de Atos p.368
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