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UMA CAUSA PARA MORRER POR ELA

Uma pergunta inicial: O que leva alguém a dar sua vida por uma causa? Se existe algo precioso para uma pessoa é a sua própria vida. Isto é natural. Nosso instinto de sobrevivência é naturalmente forte, faz parte de nossa estrutura como ser vivo-animal, ser vivo-intelectual.
Não se desvaloriza a existência sem algo grave, profundamente traumático ter ocorrido em sequência. É preciso fatos gravíssimos para se questionar a vida e passar-se a negligenciá-la, ou pior, a cogitar o suicídio.
Quando alguém pratica o suicídio, quase sempre estava passando por uma profunda crise existencial ou foi vitima de decepção (ões)grave(s) na caminhada. Pessoas que perderam o referencial e sentido de viver, sucumbiram no emaranhado caótico de conceitos e percepções distorcidas da vida.
Contudo pode-se cometer suicídio por uma causa maior à existência física. Um ideal motivado por uma consciência de que a própria morte vai ajudar a Causa.
São pessoas que descobrem ideais de lutas e, no envolvimento aprofundado, aumentando o conhecimento e amor pela Causa; é gerado um comprometimento de uma forma tal que os bens materiais, interesse de poder e vaidades no geral, além da própria vida passam a ser secundários.
Sabemos de muitos casos em nosso meio de cristão e pessoas que morreram pelo fato de não negarem a sua fé, seu ideal, sua razão de existir como servos de Jesus.
O que leva uma pessoa a morrer por uma causa?
Estando com um colega de ministério, em um momento descontraído e despretensioso, há 15 anos, perguntei num tom de brincadeira e, ao mesmo tempo provocativo: O que você faria se chegasse um anticristão aqui e, com um revolver em sua cabeça lhe desafiasse: ou você nega a Jesus ou eu estouro seus miolos? O amado irmão fechou o semblante, baixou a cabeça, pensou por alguns instantes, tornou a levantar a cabeça, olhou em meus olhos firmemente e disse se Deus me desse a graça, se Seu Espírito me desse a força necessária, naquele momento eu diria que podia atirar se quisesse, mas negar a meu Senhor eu não negaria.

Anti Racismo Uma Causa Nobre

Fiquei refletindo por vários dias acerca da resposta que o irmão me deu.
O que leva uma pessoa a morrer por uma causa? O que leva alguém a abrir mão de todo um projeto de vida individual, uma carreira acadêmica, um casamento, a ter filhos?
Neste período passei a ler e pesquisar sobre pessoas idealistas ao longo da história. Um dos nomes que me despertou interesse foi o Martin Luther King Junior. Neste período, coincidiu de passar na televisão o filme “O Pastor”, contava a história do Rev. Dr. Vernon Johns, um velho pastor, aceito pelo conselho de diáconos local, apesar de ter um histórico de curtas estadias em várias Igrejas pela militância contra a segregação racial sulista. A começar pelo primeiro sermão "A parábola do Rico e do Lázaro" em que o "rico" eram os brancos opressores dos negros da comunidade. Ele foi 19º pastor e permaneceu na Igreja da Avenida Dexter de 1948 - 1952, quando foi "convidado" a deixar a Igreja pelos mesmos diáconos que não conseguiam manipulá-lo e "domesticá-lo", para por fim as dores de cabeça com as autoridades brancas de Montgomery, cidade do estado do Alabama no sul dos Estados Unidos da América, aonde, na época, vigorava leis segregacionistas absurdas e estúpidas, tais como: pessoas de cor negra só poderem sentar no ônibus coletivo na parte de trás, e os motoristas só podiam ser brancos, nem podiam assistir filmes, nos cinemas, nas cadeiras, do meio para o início eram estofadas e limpas; só nas ultimas fileiras. Cadeiras de madeiras e, tanto os assentos como o piso, sujos, apesar de pagarem o mesmo valor para adquirirem passagens e ingressos que as pessoas de pele branca.
Este pastor depois de ter denunciado em seus sermões essas injustiças, inclusive com uma acusação forte, através da pregação com o título: “É SEGURO MATAR, E ESTRUPAR NEGROS NO ESTADO DO ALABAMA”. Ele denunciou o estupro de uma adolescente e a morte por espancamento de um jovem, ambos negros. Crimes cometidos impunemente pela polícia branca local.
A partir de então, passou a ser perseguido e ameaçado de morte pela própria policia, também pela Ku Klux Klan e ameaçado de prisão pelo juiz da cidade. Nesse contexto, com forte pressão, um de seus colegas de ministério, um jovem pastor, intrigado com tamanha ousadia e coragem, pergunta-lhe: “O senhor não tem medo! A policia, a Ku Klux Klan, a justiça, todos estão lhe perseguindo, alguns querendo matar-lhe. O senhor não tem medo de morrer?”
Neste momento o Rev. Dr. Vernon, acocorado, cuidando de sua horta, no fundo do quintal em sua residência, olhou para cima e respondeu: SE VOCE NÃO TEM UMA CAUSA PARA MORRER POR ELA, VOCÊ NÃO TEM UMA VERDADEIRA RAZÃO PARA VIVER!˝. Ele foi o antecessor e catalisador da resistência pacifica coordenada e dirigida pelo reverendo King articulador ativo logo que assumiu.
Boicote contra a segregação nos ônibus. O movimento dura 381 dias e termina com a decisão da Suprema Corte americana de proibir a discriminação. King passa então a organizar campanhas pelos direitos civis dos negros, baseadas na filosofia de não-violência do líder indiano Gandhi. Em 1960 consegue liberar o acesso de negros a bibliotecas, parques públicos e lanchonetes.
Lidera a marcante Marcha sobre Washington, que reúne 250 mil pessoas em 1963. Ao fim dela, profere um famoso discurso que começa com a frase "I have a dream" (Eu tenho um sonho) e descreve uma sociedade em que brancos e negros vivem em harmonia. Da marcha resulta a Lei dos Direitos Civis (1964), que garante igualdade de direitos entre brancos e negros. Recebe o Prêmio Nobel da Paz de 1964. É assassinado por um branco.

Um Ideal Para Segui-lo

A frase: SE VOCE NÃO TEM UMA CAUSA PARA MORRER POR ELA, VOCÊ NÃO TEM UMA VERDADEIRA RAZÃO PARA VIVER!˝. Mexeu com as minhas estruturas de uma forma tal que, chorei fortemente e passei a pensar no meu nível de entrega e de renúncia, proporcional a preciosidade, transformação, libertação, 34941700 paz, ao gozo, a esperança, que o evangelho trouxe em minha vida.

Alguns anelam o seu próprio bem está. Investem as suas energias em função de si mesmo; só se relacionam com outros se isso lhe trouxer vantagens imediatas e egoístas, muitos desses vivem para comer, vestir, usufruírem e, ao mesmo tempo satisfazerem, os prazeres de sua estrutura animal.
No geral as pessoas não investigam além do olfato, tato e visão, não especulam além da aparência. Esses são tão ensimesmados que não conseguem enxergar outra coisa que não seja seu umbigo.
Outros pensam, nessa perspectiva também, mas não só em si, querem ajudar seus familiares, pelo menos parte da família mais intima; os laços familiares são valorizados e, às vezes se sentem o máximo por isso; outros já idealizam uma melhora para o seu bairro, sua cidade; sonham com seu país transformado, imaginam e desejam uma sociedade mais justa, não se conformam com as injustiças sociais, com as guerras por motivações ilegítimas, ou a exploração do homem pelo homem. São capazes de renunciarem a prazeres egoístas, dedicarem a maior partes de seu tempo ao ideal, se sacrificam pela causa. Vêem nela um sentido para a vida. Se for necessário, empunharam armas pelas mudanças.
Ainda outros sonham com todo o planeta transformado, o sentido da vida para esses é um mundo mais justo, um mundo sem barreiras, sem fronteiras, com fraternidade, liberdade e igualdade. Esses são perfeitos para a guerra, para lutarem por uma causa justa, são preciosos em qualquer seguimento seja revolucionário ou não.
Qual líder não gostaria de ter um discípulo pronto para morrer por uma causa? Para esses, mais precioso, mais valoroso é a causa não os interesses individuais.
Quantos comunistas não sucumbiram em campos de batalhas, em guerrilhas urbanas, ou rurais, aqui mesmo no Brasil?
Milhares de advogados, comerciantes, médicos, profissionais liberais em geral e, também trabalhadores rurais e operários perderam as suas vidas na revolução francesa; a burguesia lutando por seus direitos juntos aos trabalhadores do campo e da cidade, de uma forma geral, contra a tirania real que oprimia a França de uma forma terrível. O ser ceceado de direitos e da liberdade também pode despertar sentimentos de luta e resistência em pessoas “comuns˝.
Voltando a resposta do irmão: ˝se o Espírito Santo me der graça...” Quantos não morreram e morrem pela causa do islamismo? Não e difícil testemunhar a atitude de milhares de pessoas engajadas na causa do Islamismo. São pessoas de várias idades e níveis sociais prontos a abrirem mão de seus confortos, de seus bens.
É fácil ver jovens árabes, com seus corpos repletos de bombas, prontos para morrerem pela causa do islã. Com certeza nem os comunistas, nem os seguidores de Mohamed não eram e nem são impulsionados pelo Espírito Santo para darem a sua própria vida por suas causas.
O que levava um Testemunha de Jeová a não negar a sua fé, mesmo em meio ao terror, frio e tortura, nas prisões gélidas da Sibéria, na época da perseguição comunista às ditas seitas defensoras do capitalismo presentes na antiga União Soviética? Não era o Espírito Santo com certeza.
Continua...

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