Pedro Sertão Silva

Pensamentos, reflexões, exposição de ideias, imagens...Uma visão num ângulo particular. No sertão da Paraíba fazendo o bem.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Apóstolo Pedro o Autoconfiante - Sem o Espírito Santo não há obra de Deus - VI

Lc 22.31-34

        
          Somos constantemente tentados em buscar méritos dentro de nós, em confiar em nossos talentos e experiências,nas reservas financeiras, na estabilidade do emprego que gera acomodação, na formação acadêmica, até na capacidade humana de uma forma geral, para executar a obra de Deus.
          Quando a crise se instaura, a pressão espiritual se torna crítica e todos os talentos não mais respondem satisfatoriamente, numa relação direta com crescimento, lucro e badalação triunfalista, invariavelmente as reações são de duas formas: ou passa-se a buscar então a Deus através da oração e jejum, pedindo socorro para um resgate com restauração imediata, ou se debanda para o outro lado, sendo instrumento de Satanás da forma mais terrível, com uma fachada “gospel”, sendo consciente dessa realidade ou não.
          O que temos no texto proposto é a reação de um discípulo de destaque, escolhido como um dos doze apóstolos. Uma pessoa privilegiadíssima em virtude de ter caminhado por aproximadamente três anos com o Mestre dos mestres, Senhor dos senhores e Rei dos reis.
          Pedro também recebeu a mais profunda teologia, a mais perfeita soteriologia, a mais explicita e profunda cristologia, o próprio Cristo pessoalmente, vivendo e falando acerca de si mesmo. Conviveu com a Perfeição em forma de gente, com o Verbo que se fez carne.
          Ele experimentou o sobrenatural de uma forma maravilhosa: andou sobre as águas (Mt.14.29); estava no monte da transfiguração quando apareceram glorificados Moisés e Elias juntos de Jesus (Mt.17.1 - 4). Viu vários milagres, foi usado, antes da ascensão do Senhor, expulsando demônios e curando pessoas.
         Não é fácil para um crente com o currículo de Pedro manter a humildade e a total dependência para com Deus, buscando em seu Espírito ajuda constante para a obra proposta.
         O Mestre já sabia que estava na eminência de sua prisão. Naturalmente havia uma preocupação com os discípulos. Com o que iria acontecer, como eles iriam reagir ao desenrolar dos acontecimentos. Antes de falar diretamente com Pedro Ele exortou os discípulos à humildade. Devido o surgimento de uma discussão de quem seria o maior entre eles, Jesus declarou: “Os reis das nações dominam sobre elas; e os que exercem autoridade sobre elas são chamados benfeitores. Mas, vocês não serão assim. Ao contrário, o maior entre vocês deverá ser como o mais jovem, e aquele que governa, como o que serve. Pois quem é maior: o que está à mesa, ou o que serve? Não é o que está à mesa? Mas eu estou entre vocês como quem serve. Vocês são os que têm permanecido ao meu lado durante as minhas provações. E eu lhes designo um Reino, assim como meu Pai o designou a mim, para que vocês possam comer e beber à minha mesa no meu Reino e sentar-se em tronos, julgando as doze tribos de Israel” (Mt.22.25-30).

O maior é o menor, o maior é aquele que serve.

          Complicada de se colocar em prática é a humildade, na perspectiva humana decaída. Saber caminhar sem nenhum sentimento de orgulho e independência quando o “sucesso” vem. O isolamento, em muitos casos passa a ser inevitável. “Eu não caibo mais em qualquer lugar”, afirma com o ego inflado, o “bem sucedido". O que Pedro vivia era fabuloso demais, sublime demais para uma pessoa com a natureza decaída.
          Jesus alerta confrontando a Pedro: "Simão, Simão, Satanás pediu vocês para peneirá-los como trigo. Mas eu orei por você, para que a sua fé não desfaleça. E quando você se converter, fortaleça os seus irmãos” Jesus falou na frente dos demais discípulos que Pedro precisava se converter. Satanás pediu a Deus para peneirar os discípulos como um todo, inclusive Pedro, mas Jesus, na frente de todos alerta a Pedro acerca da necessidade da genuína conversão para ser protegido dos ataques malignos e poder ajudar os demais discípulos.
          Pedro não aceitou de forma alguma aquela confrontação, denunciando a sua vulnerabilidade e reagiu afirmando está pronto para ir com o Senhor para a prisão e para a morte. O Mestre ignorando o que Pedro havia falado disse-lhe a realidade futura próxima: negação do compromisso com O Mestre e por três vezes antes que o galo cantasse.
          É complicado para alguém já estabelecido como Pedro, uma pessoa com fortes indicativos de liderança até para com os demais apóstolos, aceitar aquele descredenciamento. O Senhor estava promovendo um tratamento de choque imprescindível para “quebrar” a autoconfiança e o orgulho já evidente e que dominava, de uma forma comprometedora, a Pedro.
          Ele estava estabelecido e seguro, afinal de contas o Messias era o seu líder imediato, tudo caminhava bem, apesar da oposição forte do Sinédrio.
          Pedro acompanhou o Mestre em vários momentos críticos em que tentaram apedreja-lo e prendê-lo e nada aconteceu. Estava tudo sobre controle. Pedro podia sonhar, idealizar uma nação judaica livre. Finalmente estava próxima a instauração do Reino Messiânico.
          Não é incomum fazermos planos, idealizarmos uma porção de estratégias convenientes aos nossos interesses e colocarmos como sendo projeto de Deus para as nossas vidas e para os demais que estão ao nosso redor.
          Quando Pedro afirmou está pronto para morrer por Jesus ele não quis fazer média, ele não mentiu. Pedro estava pronto para morre pelo Jesus que ele concebia, segundo o que idealizava como seria o Messias. A prova cabal disso é refletida em sua reação inicial quando chegou à guarda do templo no monte das Oliveiras para prender Jesus. Pedro pegou uma espada e decepou a orelha de um servo do sumo sacerdote (Jo.18.10).
          Ele estava pronto para morrer por um messias político que mobilizasse a população e derrubasse o império romano ocupando o trono de Israel. O Cristo que Pedro enxergava não era o mesmo Cristo que estava a caminho da cruz.
          O Deus que muito enxergam e se relacionam nem sempre corresponde com o Deus verdadeiro. Idealizam-se projetos das mais várias tendências para Deus sem, contudo, consulta-lo para saber se o projeto é o segundo a Sua vontade.
          Nem sempre idealizar estratégias, mesmo de evangelismo ou missões para Deus, é segundo a vontade dEle. O projeto de Deus vem de Deus para o homem e não do homem para Deus. Precisamos consultá-lo para saber qual a Sua vontade.
          Após aquela impulsiva e agressiva reação Jesus se dirige a Pedro dizendo: "Guarde a espada! Acaso não haverei de beber o cálice que o Pai me deu?" (Jo.18.11) revelando a Pedro que havia um propósito de Deus naquele momento de prisão e que todos os propósitos iriam serem cumpridos.
          Na versão atribuída a Mateus a declaração é mais contundente "Guarde a espada! Pois todos os que empunham a espada, pela espada morrerão. Você acha que eu não posso pedir a meu Pai, e ele não colocaria imediatamente à minha disposição mais de doze legiões de anjos? Como então se cumpririam as Escrituras que dizem que as coisas deveriam acontecer desta forma?" (Mt.26.52).
          A grande questão da proposta não é o poder para execução da vontade de Deus, mas a forma: as armas que seriam utilizadas. Uma forma inédita, absurdamente diferente e aparentemente sem nexo e contraditória: a cruz. A arma principal passou a ser o amor, a não violência, o dar a outra face, o amar o inimigo.
          Pedro não entendia mais nada. Desabou todos os referenciais. A expectativa triunfalista de governo atrelado à tomada de poder desmoronou. Os referenciais, os projetos de Pedro para o Messias não corresponderam. "E agora?! Para aonde irei? o que farei? Que historia é essa? Preciso rever tudo". Provavelmente pensou Pedro atordoado, tonto, desnorteado.

É preciso o ideal humano desmoronar para o ideal divino se estabelecer

          Muitos servos de Deus passaram e passam por esse processo. São pessoas bem intencionadas e sinceras para com Ele, mas não aprenderam ou não quiseram entregar seus projetos e sonhos ao Senhor. Desiludidas, em boa parte, perderam o rumo, adoeceram na alma, ou se desviaram do alvo de tal forma que, apesar da sinceridade, estão atrapalhando a obra de Deus. Naquela perspectiva de, na melhor das intenções, legitimarem a morte de Jesus com os perfumes e óleos, conforme analise das mulheres indo ao tumulo, comentado no outro texto.
          Quem se recuperar de uma grande queda tem muito mais chance de ser intimo de Deus.
          O Pedro que estava, antes da prisão de Jesus pronto para morrer por Ele, não sabia mais de nada. Os seus valores e referenciais estavam em cheque. Nada era seguro naquele momento. Os fatos se sucediam em velocidade. Não dava para raciocinar direito, tudo estava meio confuso.
          Quando perdemos os fatores que nos trazem estabilidade ficamos vulneráveis. Pedro estava vulnerável, frágil e amedrontado.

          Perguntaram a Pedro, uma vez, duas vezes, três vezes se ele era um deles, um dos seguidores de Jesus. Disseram a ele que só podia ser já que seu modo de fala era similar aos galileus que andavam com Jesus. Pedro negou uma vez, negou segunda vez e, segundo o evangelho escrito por Mateus ele negou a Jesus por ultimo amaldiçoando e jurando afirmando: "Não conheço esse homem!” quando alguém afirmou que certamente ele era um deles (do grupo de Jesus).
O galo cantou. Pedro lembrou-se de sua promessa ao Mestre e lembrou que Jesus profetizou a negação atrelada ao o canto do galo. Ele chorou amargamente (Mt.26.73-75).
          Criar expectativas de si mesmo, baseado em autoconfiança, para com Deus pode ser frustrante.
          Muitos que se frustram na obra de Deus tendem a desistir e voltar a fazer as coisas que praticavam antes. Pedro e outros discípulos voltaram a pescar (Jo.21.3), outros voltam a serem depressivos, outros a beber, alguns a pratica de sexo ilícito...
          Pedro muito provavelmente se autodemitiu, desistiu de servir a Cristo. A tendência de querermos decidir sozinhos se estamos ou não aptos para fazer a obra de Deus é lamentavelmente frequente.
         Um anjo que apareceu às mulheres, numa clara conspiração de resgate e valorização divina às mulheres, preferindo-as como pioneiras no anúncio da vitória de Cristo sobre a morte, pedem para avisar aos discípulos e, de forma personalizada a Pedro acerca da ressurreição do Senhor (Mc 16.7).
          O Mestre, já ressuscitado a beira mar, vai ao encontro dos discípulos pescadores e os orienta para jogarem a rede do lado direito do barco. Eles não reconheceram quem falava. Os discípulos passaram a noite toda tentando pescar alguma coisa, mas nada encontraram, podia ser que eles não soubessem como era seguir a Jesus, mas pescadores eles eram, mas, nada de peixes.
        Quando alguém tem um chamado missionário e está fora do propósito de Deus, nem o que ele domina com competência profissional, haverá rendimento produtivo satisfatório, até mesmo  o trivial será mal executado. Não há prosperidade.
          Em obediência aquele homem que com segurança os orientava, lançaram a rede. Depois a mesma quase se arrebenta, tamanha foi a quantidade de peixes (Jo.21.1-14).
          Não se faz nada com competência, quando se tem um chamado para servir a Deus, se não for com a orientação do Espírito Santo.
          Nas linhas abaixo  refletiremos sobre a sequência do encontro à parte com Pedro, no momento em que Jesus passa a interroga-lo. Imaginemos o que se passava, naquele momento, na mente do apostolo:
          Após a refeição Jesus passa a indagar a Pedro: “Simão, filho de João, você me ama mais do que estes?” Disse ele: "Sim, Senhor, tu sabes que te amo". Pedro deve ter pensado:
- Pronto, agora será a hora que Ele vai me falar as verdade que tenho de ouvir. E com justiça. Talvez vá somente comunicar o que já sei: a minha incapacidade de ser seu seguidor e me orientar a continuar pescando.
          Jesus usou o verbo agapaõ (amar desinteressadamente) e Pedro respondeu com phileõ (amor fraterno, menor em intensidade e compromisso). Presumo que Pedro estava mais comedido, devia ainda pensar:
- Eu disse que estava pronto para morrer por Ele e o neguei várias vezes, agora eu vou ficar é quietinho por aqui. Eu não sei é mais de nada.
 Disse Jesus: 
- Cuide dos meus cordeiros

Pedro pensou:
- Como pode, ele está me readmitindo! Eu nem respondi a altura, eu falei de um compromisso menor!?

 Novamente Jesus disse:
- Simão, filho de João, você me ama?
De novo usou agapaõ. Jesus pergunta pela segunda vez, Pedro deve ter reagido em seu intimo assim :
- parece que a primeira resposta não tinha valido. Será que Ele estava só me testando?
 Pedro respondeu então:
- Sim, Senhor, tu sabes que te amo.
           Pedro insistiu em responder com phileõ, ele não estava mais em condição de ousar, a modéstia estava fazendo parte de sua estrutura.
 Disse Jesus:
- Pastoreie as minhas ovelhas".
          A segunda vez que o Mestre falou da sua readmissão pode ter deixado em Pedro uma impressão de aprovação, de que o ocorrido na verdade não foi tão grave. Na verdade ele poderia ‘ser o bom’ que antes pensava que era.
  Pela terceira vez, Ele lhe disse:
- Simão, filho de João, você me ama?
           Dessa vez o Senhor usou o mesmo verbo que Pedro utilizou para responder as duas primeiras perguntas, o phileõ. Isso, provavelmente confrontou o já combalido discípulo. E agora? A dúvida, o medo, a vulnerabilidade devem ter voltado com toda intensidade.
Pedro ficou magoado por Jesus lhe ter perguntado pela terceira vez "Você me ama?" E lhe disse:
- Senhor, tu sabes todas as coisas e sabes que te amo.
          Pedro poderia ter acrescentado assim: Tu sabes que eu não sou muito, conheces o meu coração, conheces o meu passado, o meu presente, sabe de tudo, sabe o meu limite, das minhas inconstâncias, sabe que, pelo menos te amar como amigo é possível.
  Disse-lhe Jesus
- “Cuide das minhas ovelhas Digo-lhe a verdade: Quando você era mais jovem, vestia-se e ia para onde queria; mas quando for velho, estenderá as mãos e outra pessoa o vestirá e o levará para onde você não deseja ir”.
          João afirma que Jesus estava dizendo a forma com que Pedro iria morrer por amor a Ele. Como se dissesse: Só os nascidos de novo, cheios do Espírito Santo e escolhidos por Deus podem ter esse privilégio de ser mártir. Não é de qualquer forma de qualquer jeito que se sofre por amor ao Evangelho. Só os escolhidos e capacitados pelo Pai.
          A tradição histórica da igreja afirma que Pedro foi crucificado, em sua velhice, de cabeça para baixo, por ter alegado não ser digno de morrer da mesma forma que o Senhor.
          Deus usa a nossa formação teológica, usa a nossa experiência, usa os nossos talentos naturais, a nossa inteligência, mas, tudo isso sem o controle do Espírito não adianta na obra de Deus.

Ungir o Corpo de Jesus Morto. Como assim? - Sem o Espírito Santo não há obra de Deus - V



Elas Iam Ungir o Corpo de Jesus

Lc 23. 54-56; 24.1-6

Três mulheres, discípulas do Mestre chamadas Maria Madalena, Maria mãe de Tiago e Salomé (Mc 16.1), acompanharam Jesus desde a Galiléia.
Chegaram ao túmulo, onde Ele fora sepultado, próximo ao final da tarde da sexta feira, dia da preparação.
Como iria se iniciar o sábado, dentro em pouco, elas percebendo que não daria tempo ungir o corpo de Jesus, foram embora e esperaram passar o sábado.
De madrugada, seguiram em direção ao túmulo. Encontraram a pedra removida, estava vazio. As discípulas ficaram perplexas com o fato.
Apareceram a elas dois anjos que  lhes perguntaram: "Por que vocês estão procurando entre os mortos àquele que vive? Ele não está aqui! Ressuscitou! Lembrem-se do que ele lhes disse, quando ainda estava com vocês na Galiléia: 'É necessário que o Filho do homem seja entregue nas mãos de homens pecadores, seja crucificado e ressuscite no terceiro dia’” (Lc.24.5-7).
Invariavelmente quando se analisa esse texto, é feito, reflexões de caráter positivo acerca da atitude das  seguidoras do Mestre.
Afirmar que elas, por terem ido na madrugada ao túmulo, com uma grande pedra dificultando a entrada, foram corajosas, tinham motivações boas pela fidelidade ao Mestre; eram mulheres dispostas, tinham no coração gratidão e amor é ser justo com elas.
Só que, existe um aspecto muito sério,  quase sempre relegado ou mesmo ignorado na atitude delas. O que queriam fazer indo ao túmulo? a resposta é: ungir o corpo do “defunto”.
Elas não foram ao sepulcro para e na expectativa de verem a sua ressurreição. A intenção era prestar uma homenagem póstuma através de um ritual fúnebre no qual utilizavam-se perfumes e óleos aromáticos, dentre outros elementos.
Numa proposta semelhante, aqui no ocidente, se enviam coroas de flores, mandam-se telegramas de pêsames, coloca-se flores em cima do corpo. Parte de um ritual  em que o ente querido é “bem tratado” e  a morte é legitimada.
Se elas estivessem na expectativa da ressurreição, conforme Jesus afirmou que ocorreria, por diversas vezes, antes de ser preso e morto, a atitude delas seria outra.
Não se tem outra atitude condizente com a vontade de Deus se o Espírito Santo não estiver no controle.
Elas estavam passando por um momento de crise profunda. Aquele que disse e "parecia ser" o Messias estava morto, foi preso, não ofereceu resistência, foi humilhado, nada de sobrenatural mais aconteceu. Ele morreu, ele estava ensanguentado, acabado. A esperança se foi com a morte.
O trauma da morte se abateu, se instaurou.
Quantos irmãos em Cristo, mesmos líderes, vivem hoje, entre nós,  traumatizados, feridos, desiludidos, chocados, seja por motivo da morte de entes queridos, ou traições de entes íntimos; feridos pela liderança, revezes graves financeiros, a fé abalada, sufocados e detidos pelo desânimo...
Quantas lideranças ou ovelhas reféns de um casamento falido, que nem a aparência da mais para manter. Casos de separação sem sentido, parecendo que Satanás chegou e dinamitou toda uma estrutura familiar que parecia indestrutível.
Quantas ovelhas ou mesmo líderes estão detidos por causa de enfermidades que vieram e levaram a paz, instaurando crise financeira sem precedentes nas suas histórias de vidas.
Traumas, dores, mortes, frustrações, decepções... Quantos irmãos não sofrem de forma a comprometer a sua espiritualidade por serem perseguidos e caluniados implacavelmente, por estarem sós, por não serem reconhecidos. Sentimentos, feridas, doenças na alma que podem comprometer a visão correta do propósito e da direção de Deus.
Mas, o amor, a gratidão, a vontade de servir ao salvador, às vezes, a necessidade de continuar apresentando uma espiritualidade de fachada, a necessidade “profissional’, para os que vivem da obra, de estarem sempre produzindo para o Reino, prestando relatórios... Faz com que vários, sem condição emocional, psicológica e muito menos espiritual, continue a querer produzir para Deus.
Nem sempre fazer para Deus é fazer o que Deus quer que se faça.
Quem administra não somos nós, mas sim Ele.
Tem momentos que é preciso parar. Pessoas doentes precisam ser tratadas. Até as empresas têm por obrigação legal liberar os enfermos para serem curados, e pagam, mesmo assim o salário. Depois de um determinado tempo, a Previdência Social do Estado assume o ônus salarial do empregado, mas, é preciso que haja tratamento, não se produz estando enfermo em nenhuma dimensão seja para a empresa, muito menos  para o reino de Deus.
Temos acompanhado há mais de dez anos parte da liderança evangélica no interior do nordeste, no sertão da Paraíba, um bom número destes líderes estão precisando parar para serem curados. Muitas igrejas não crescem por causa de doenças na alma do líder.
Uma pergunta que geralmente faço, quando alguns compartilham seus conflitos, é esta: por que você não dar um tempo no ministério para se tratar? As respostas, invariavelmente são:
- Eu não posso fazer isso, se não eu perco o cargo e outro vem me substituir.  Ou com este conteúdo: - eu não posso transparecer fraqueza se não sou considerado desqualificado.
Uma outra análise é em relação ao pecado. Muitos irmãos estão por aí tentando servir a Deus de todo jeito, até mesmo em pecado. Deus não faz acepção de pessoas. Se alguém está em pecado, tem de ser tratado.
 Não se faz a vontade de Deus em pecado, o Espírito Santo não atua em pessoas em pratica pecaminosa.
A uma tendência, conscientes ou inconscientes, que levam pessoas a acharem que fazer a obra de Deus encobre pecados e que Ele vai “passar a mão na cabeça” de quem está em pecado.  Ledo engano.
Voltando ao texto: As mulheres estavam com a melhor das intenções, mas, devido ao trauma da morte e morte exatamente daquele que parecia ser o herói político e divino, fez desmoronar em seus corações a esperança. Com a melhor das intenções foram ao túmulo para ungir o corpo, o cadáver.
Não se trabalha para Deus sem a esperança, não se tem esperança sem uma atuação direta do Espírito Santo, o Espírito Santo não atua, de forma plena, em corações impedidos por traumas, ansiedade, doenças de alma, ódio, amargura, e muito menos em pecado.
Quantos não estão, no meio cristão, com a melhor das intenções, atrapalhando a obra de Deus. Fazendo a coisa certa na hora errada, ou mesmo a coisa errada, da forma errada na hora errada. Com a melhor das intenções, achando que tem de fazer de qualquer forma para Deus.
Na maioria dos casos, fazendo para si mesmo e para que o outro veja. Deus não precisa de nós, nós é que precisamos dele. Ele sabe a forma, o tempo e o lugar para, quando, segundo a Sua vontade, termos o privilégio de servi-lo.
Deus sabe a hora quando seu sevo deve parar. É preciso está atento ao Espírito Santo. Não pode ser de qualquer jeito, a qualquer hora, em qualquer lugar o trabalhar na Obra.
Voltando a analise do texto: Apesar da falta de esperança nas suas servas, Deus em sua infinita misericórdia enviou anjos que avisaram a elas acerca da ressurreição, dando as mesmas o privilégio de terem sido as primeiras pessoas a saberem da maravilhosa noticia.
Sem o Espírito Santo não se pode servir a Deus.
Ele aconselha ensinando – Jo 14.26
Ele orienta para a verdade – Jo 16.13
Ele promove santificação no crente – Rm 15.16ç 1 Co 6.11
Ele habita na Igreja - Jo 14.17; Rm 8.9

Não Saia de Jerusalém - Sem o Espírito Santo não há obra de Deus - IV

Não Saia de Jerusalém

Lc 24.13-33           

Enxergamos-nos e Crescemos na Crise

Só temos a nossa espiritualidade, santidade, maturidade espiritual provada nas crises. São nas crises que percebemos o nosso nível de tolerância, paciência, capacidade de perdoar e pedir perdão, profundidade no relacionamento com Deus, em quais bases e condições e motivações nos relacionamos com Ele.

É quando a luta financeira se instaura e o medo do amanhã, da perda de status, numa relação direta com o ter.

Quando Deus permite sermos caluniados. Pessoas que se levantam questionando a legitimidade do nosso ministério, ou profissão, numa insinuação que coloca em duvida a honestidade pela qual zelamos muito.

Só sabemos de nosso nível de maturidade quando os nossos tesouros são ameaçados; quando a enfermidade vem e nos faz sentir o cheiro da morte querendo atingir-nos ou a um ente querido. Provocando medos e inseguranças que pode nos fragilizar de forma grave.

Como temos reagido às crises?
Não se mede a espiritualidade de uma pessoa só pelas suas ações, mas principalmente pelas suas reações não premeditadas.           
É natural, na crise, buscar uma forma de escape. A fuga é cogitada sempre que lutas, crises, reveses e dificuldades de sobrevivência ocorrem.

 As guerras são uma das causas que mais provocam êxodos e imigrações, também as grandes crises  econômicas ou problemas climáticos como as secas

A Questão climática foi o argumento mais forte para saída de nordestinos sertanejos para as grandes cidades de outras regiões. O nordestino se espalhou por todo território nacional. São também conhecidos como os judeus brasileiros.

Tivemos vários momentos de intensa migração em decorrência desses ou de outros motivos. No Brasil, principalmente para o sul e sudeste, levas de imigrantes italianos e alemães, no final do século XIX, se estendendo, também, no inicio e até próximo do final da primeira metade do século XX uma grande leva de japoneses todos buscando nas terras brasileiras, melhores condições de vida.

            Nem sempre é negativa a fuga, às vezes é sábio e prudente. No entanto fugir para se ver livre de um processo de Deus, é imprudente, é perigoso. Não se foge das provas de Deus. Para onde formos à prova nos seguirá. Quando Deus tem um propósito de  tratar o caráter, por exemplo, Ele vai mexer com  valores materiais e morais, Ele vai até o fim. Não adianta fugir.

            Temos a tendência natural de querermos desistir dos projetos, de sonhos, de propósitos, mesmo tendo a convicção de que Deus nos levou até ali.

O mecanismo de defesa da alma, por instinto, às vezes dispara o alarme de fuga – “saída pela esquerda!” Como dizia o Leão da Montanha, simpático personagem dos desenhos animados nos anos setenta. Mas, se temos a convicção de que Deus está no processo, seja aonde for, fazendo, não importa o que, não devemos desistir nunca. Se Deus mandou, Ele se responsabiliza; não importa o quanto dói, quando Ele tem um propósito, os resultados, no tempo certo virão à tona e, mais adiante colheremos as bênçãos do processo.

Quando alguém está doente fisicamente e corre risco de vida invariavelmente é encaminhado para se submeter à cirurgia. As pessoas apesar do medo não fogem da mesa cirúrgica.

Deus quer tratar nos proporcionar crescimento espiritual. Para tanto nos levar para um processo de tratamento mais profundo em nosso ser. Por isso  permitirá passarmos por circunstancias, algumas vezes, humilhantes e doloridas, nos privando de determinados confortos, honras, companhias e privilégios que podem ‘estragar” nossa comunhão e crescimento espiritual.

Com certeza Deus quer arrancar, de nosso ser, elementos nocivos à saúde espiritual, à comunhão com Ele.

O tratamento de Deus é vital para o nosso crescimento espiritual. Mas, temos medo. Nos “preservamos” demais. Apesar de sermos novas criatura, de o Espírito Santo habitar em nós, ainda podemos ter sofismas, valores entranhados que impedem a perfeita comunhão com o Senhor (1Co 10.13).

Deixemos Deus tratar. A anestesia que ele usa é perfeita, Ele não deixa passarmos pelo que não podemos suportar.

 A aparente desonra, doenças, carências, com Deus no barco é melhor que o conforto, a honra, a fama, a fartura, a riqueza, a “paz” sem a presença do Senhor.

            É muito importante a convicção de que estamos no centro da Sua vontade. Quando vir o tratamento, o treinamento dEle em nossas vidas, estaremos conscientes de que é necessário passar pelo processo. Essa consciência nos ajuda a vivermos a crise sem cair na tentação de fugir.

            Precisamos assumir as nossas novas vestimentas em Cristo Jesus.


As Novas Vestes em Cristo



            Uma estória nessa proposta:

            Havia um rei que resolveu convidar a todos os súditos a participarem de uma grande festa oferecida em homenagem ao seu filho.

Um mendigo, habitante desse reino, ao ler um dos painéis na rua com o convite, reparou na ultima linha da divulgação, uma observação que informava assim: ‘O traje é de gala’.

Lendo aquilo o pobre homem ficou irado e, num impulso chegou ao palácio real desejando falar com o rei. Contudo, logo na entrada é barrado pelo segurança que perguntou o que ele desejava. De pronto respondeu:

- Falar com o rei.

O segurança sorriu discretamente e disse:

- Falar com o rei é muito difícil. Você agendou?

O pobre homem, em estado de revolta, não respondeu ao guarda. De forma ousada perguntou se o rei tinha duas palavras. O guarda, em tom ameaçador, indagou se ele não tinha amor pela liberdade, foi então que o pobre homem explicou:

- Como o rei podia convidar a todos, independente da posição social, se só poderia entrar com o traje de gala?

            O guarda depois de ouvir aquele questionamento pediu ao homem que aguardasse, pois ele iria ver se conseguia um momento com o rei. Passados alguns minutos. O segurança de volta afirmou:

- Você está com sorte hoje em?!, o  rei resolveu recebe-lo.

            Entrando no palácio aquele homem muito pobre ficou maravilhado e ao mesmo tempo chocado com tanto luxo. Passou por varias portas e subiu algumas escadas chegando à presença do rei, que sorrindo logo perguntou a razão de sua visita.

Depois de o homem ter alegado que gostaria de participar da festa mais não tinha roupas adequadas, o rei prontamente disse:

- Não seja por isso, vamos resolver esse problema. Chamem meu filho.

Alguns segundos após, entra na sala do rei o príncipe. De forma repentina a sala ficou mais iluminada, parecia que a primavera tinha chegado, o cheiro do ambiente se tornou muito agradável. O sorriso do príncipe era de uma beleza e de um brilho incomparável.

            O rei pede ao filho que leve aquele homem para a sala do guarda roupa. Chegando lá com o príncipe, o pobre homem maravilhou-se com a imensidão e beleza do quarto.

            O príncipe, muito simpático, abre a portas do guarda roupa e mostra todas as variedades de tecidos,  cores e modelos das vestes contidas ali.

            O homem estava tonto sem saber o que escolher. O príncipe, então, em seu auxilio, escolhe uma roupa lilás muito elegante.

            Aceitando prontamente a sugestão, ele tirou a roupa velha que estava suja e desgastada e vestiu a nova, mas olhando pra baixo, lembrou de que as roupas duram pouco e seria seguro guardar aquela roupa antiga.

            Ao o ver abaixar-se e pegar a antiga roupa, o príncipe lhe disse que não precisava, pois a roupa nova era indestrutível. Mesmo assim ele insistiu.

No jantar, a noite, as palavras mais freqüentemente pronunciadas, pelos convidados foram: abundancia e fartura.

Havia todos os tipos das melhores comidas conhecidas, contudo o homem que recebeu a bela roupa lilás segurava com uma das mãos a velha roupa e, por isso, não podia desfrutar de todas as iguarias, só comia com uma das mãos.

Um ano depois, o rei e o príncipe andam por uma das ruas da cidade e observam que estava deitada na sarjeta, uma pessoa vestida de lilás. Aproximaram-se e perceberam que se tratava daquele homem. Ele estava com a velha roupa, servindo como travesseiro, na cabeça,mas estava morto.

Deus quer arrancar de você a velha roupa, do velho homem.

Não fuja! Confie! Deixa Ele lhe levar para a sala de cirurgia.

            Em Lucas 24. 13-35 Temos dois discípulos se retirando de Jerusalém exatamente no dia em que o Messias afirmava que iria ressuscitar (Mt 16.21; 17.24; 18.19;27.64; Lc 9.22; Lc 18. 32,33, entre outros).  Estavam indo para Emaús, uma aldeia que era distante 11 km de Jerusalém.

            O que levou aqueles dois homens a saírem de Jerusalém, cidade que o Messias foi sepultado exatamente no dia da ressurreição? Com certeza eles não estavam indo a Emaús com o intuito de fazer alguma coisa relacionada ao Mestre.

A realidade espiritual deles está clara na narrativa de Lucas. Eles não reconheceram o Mestre quando se dirigiu a eles com uma pergunta (Lc 24.16-18). Quando saímos do centro da vontade de deus podemos perder o discernimento de sua presença.

Eles não estavam mais acreditando na messianidade do Mestre mesmo com o testemunho das mulheres referente à ressurreição, apesar de alguns outros discípulos terem confirmado quanto ao tumulo vazio (Lc 24.22-24).

Sem a comunhão com Deus, invariavelmente, tornamo-nos céticos e pessimistas, perdemos a esperança, tendemos a culpar os outros, todos são culpados menos nós.

No ministério é comum encontrarmos líderes transferindo a responsabilidade para os superiores, alegam que eles são os responsáveis pelo eventual fracasso. Falta de apoio, de pastoreio. Todos estão errados menos ele.

É terrível admitir o fracasso, que perdeu, errou, ou se está com medo.

É tentador construir um bom discurso se eximindo de toda e qualquer culpa para poder fugir do processo com a consciência tranqüila.

Podemos concluir com esse texto: quando a crise se instaura e compromete a nossa visão e ou fé é imprescindível à intervenção do senhor Jesus. A Sua ação sabia e soberana, é decisivo para o crente. Precisamos dEle.

Jesus foi ao encontro daqueles dois discípulos para resgatá-los da incredulidade, do desanimo. Ele se aproximou, acompanhou, ensinou, exortou, abriu-lhes os olhos espirituais (Lc 24.15,25-31).

È necessário deixar Jesus totalmente no controle nos momentos de crise. Só Ele pode nos ajudar a perseverar mesmo parecendo estar tudo errado. Os dois homens a caminho de Emaús estavam sobre o impacto de uma aparente derrota. Não é fácil encarar a morte com sobriedade nem discernir vitória com ela presente.

Sem o Espírito Santo não se persevera no lugar e na posição que o Senhor nos colocou.

Ele confronta com os pecadores – Gn. 6.3

Ele convence e reprova – Jo 16.8

Ele encoraja e motiva à Igreja ao crescimento - At.9.31

Ele nos ajuda quando a crise quer nos sufocar – Rm 8.26

A Maior Crise da Eternidade - Sem o Espírito Santo não há obra de Deus - III

A Maior Crise da Eternidade

A maior crise representativa da eternidade foi no processo de prisão, julgamento, crucificação, morte e ressurreição do Senhor Jesus. Nenhum acontecimento foi tão importante e decisivo. O passado o presente e o futuro estavam dependendo do desenrolar conclusivo daqueles acontecimentos.
Grande parte das pessoas discipuladas por Jesus caminhou, ouviu, testemunhou, conviveu, no entorno de três anos com o Mestre dos mestres, com o maior teólogo que já pisou na face da terra, o mais sábio.
Por que essas poucas centenas de pessoas que caminharam com Ele precisariam de auxilio na crise? Eles viram os milagres, conviveram com a encarnação do amor, aprenderam a cristológia da maneira mais profunda. Vivenciaram ensinamentos soteriológicos como ninguém antes e depois experimentou. Uma teologia pura, sem tendências ou distorções. Foram testemunhas da Perfeição Humana Encarnada, da Divindade manifestada de forma extraordinária. Foram confrontados como nenhum com a Santidade manifestada de forma inédita, perfeita maravilhosa, comovente, sublime.
Naquele momento de crise como os discípulos de Jesus reagiram-agiram?
Trago nas linhas abaixo uma analise baseada no que o Novo Testamento expõe sobre eles.
Antes quero voltar ao texto proposto escrito por Lucas. Um relato das ultimas palavras do Senhor Jesus que falou: “Mas receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra".
Em cima dessa frase trago reflito: “O Poder virá através do Espírito Santo”. Palavra grega dunamis (δυναμις), mesma raiz para a palavra dinamite, inventada por Nobel, sueco que estabeleceu o Prêmio Nobel para as mais diversas áreas das ciências e o Nobel da Paz.
Poder para construir e propagar o reino de Deus, poder para “explodir” as obras das trevas. Poder eficiente através do homem quando utilizado na motivação e na atividade correta; também aponta para força, habilidade.
Penso que o poder do Espírito, segundo Jesus, quando ele utiliza a expresão “descerá”, está ligado ao sentido analógico com a água que flui naturalmente de cima para baixo, preenchendo espaços vazios. Só receberá o poder de Deus quem estiver vazio, se a estrutura interior, de alma estiver desocupada de orgulho, de autopreservação numa dimensão carnal e egoísta, esvaziado da auto-suficiência, próprias daqueles que confiam em seus próprios talentos, técnicas e experiências de caminhadas ou religiosas, ou mesmo, na formação acadêmica.

O Poder só é liberado na sua plenitude para os Servos.

Poder para que? para ser testemunha, não para exibicionismo, não para adquirir lucros, não para erguer impérios denominacionais, não para promoção pessoal, mas para expandir o reino de Deus, propagando a Verdade que liberta.
Ser testemunha na expressão do original está relacionado com mártir a palavra é martus. Testemunha que afirma Cristo como o caminho para a salvação. Confessam com todas as forças e com o peso de não ter a vida por preciosa. Com uma autoridade explicita em todo o ser daquele que testemunha.
Para a testemunha de um crime, muitas vezes, basta só afirmar que viu que estava lá no momento e isso é suficiente para a lei. Para testemunhar acerca de Cristo é imprescindível viver o que se fala.
Muitos ditos cristãos não podem evangelizar na vizinhança onde mora porque não tem uma postura condizente com o discurso.
É o caso de um determinado líder que resolveu, finalmente, depois de dois anos morando naquela determinada rua, evangelizar o vizinho do lado. Começou a falar acerca das maravilhas que Jesus pode fazer na vida de quem passa a acreditar nele como senhor e salvador. Fez menção à paz, ao amor, a mansidão, a libertação de vícios... Mas, a pessoa que estava sendo evangelizada o questionou dizendo:
- Pode ser até verdade tudo aquilo que você falou, mas se eu for depender de seu testemunho no dia-a-dia, é mentira. Você é agressivo, orgulhoso e antipático. 
Para testemunhar acerca de Cristo precisamos dar testemunho.
Testemunhar aonde? Testemunhar em todo o mundo. Uma igreja mobilizada para pregar o evangelho em toda a terra. Onde houver ser humano; concomitante, em seu local onde nasceu e cresceu, nas proximidades, em outros paises, nos limites do planeta ou fora dele, desde que tenha gente: “a toda criatura”.
 Em Lucas 24 versículo 49 o Mestre fala: ”Permanecei em Jerusalém até que do alto sejais revestido de poder”. Ou seja, parece que Jesus queria dizer: não inventem de sair de Jerusalém sem o poder do Espírito. Antes: não tentem trabalhar para mim sem o poder do Espírito.
Apesar da caminhada, apesar do conhecimento, de terem sido usados na libertação e cura de muitas vidas (Mt 10.1), apesar da profunda teologia assimilada. Precisavam do auxiliador. Não se pode fazer para Deus sem o Espírito Santo atuando. Ele é o auxiliador.
Não se contribui para o reino de Deus, de forma eficiente, sem as vestimentas, o revestimento mencionado por Lucas “enduo” que significa entrar em uma veste nova. Se vestir, se cobrir do e com o Espírito Santo
 Voltando a refletir naquele momento crucial, no processo de conclusão da obra do Cordeiro analisaremos, nas linhas abaixo, reações, em plena crise, de alguns discípulos, que, até então, ainda não tinham recebido o Espírito Santo.
Continua  no:  Sem o Espírito Santo não há obra de Deus - IV. acesse aqui

Soldado do Exercito de Davi - Sem o Espírito Santo não há obra de Deus - II


Soldado do Exercito de Davi

O primeiro líder que se aproximou, quando da minha chegada, para morar no sertão, demonstrando um real interesse de ser ajudado foi o Pr. Gildário. Sertanejo autêntico de nascimento, nativo de Pombal no estado da Paraíba, pastor da igreja Assembléia de Deus Betesda em Itaporanga, também na Paraíba.

Gildário se aproximou quando dos primeiros dias de nossa chegada para assumirmos o Seminário Sertanejo da Juvep.

Apesar de seu jeito excessivamente irreverente, transparecia, em suas atitudes, um grande desejo de ser acompanhado.

 Seis dias depois, após a nossa mudança, ele nos visita. Era dia de feira. O convidei para comermos um guisado de bode com cuscuz na feira livre. Nada melhor que começar os primeiros contatos, principalmente com a liderança mais simples, de forma simples.

Durante o lanche, lhe fiz uma proposta: perguntei se ele me acompanharia em uma campanha de jejum e oração. Estava chegando ao sertão e queria começar totalmente alicerçado na oração. Ele prontamente aceitou o convite. 

No primeiro dia de consagração, pela manhã depois que fiz uma oração geral pelo sertão e lideranças da região, sugeri ao Pr. Gildário que intercedesse por sua igreja.

Ele começou a orar de uma forma displicente. Ao mesmo tempo em que orava sem convicção, bocejava e coçava as costas. Eu pedi que ele parasse de orar e sugeri que se empenhasse mais na intercessão. Gildário tentou de novo, mas não conseguia. Usando uma linguagem sertaneja para explicar o momento: Gildário estava “travado”.

Quando o questiono novamente, querendo entender o porquê de sua dificuldade, Gildário, tem um acesso de ira e grita:

- Eu não oro não! Eu não oro por eles não! Eles me rejeitam e eu os rejeito! Eu não quero saber daquele povo não!

Pensei comigo: Meu Deus! Com quem me aproximei para ser companheiro de oração? ou, numa expressão mais popular: “aonde amarrei a minha burra” ·.

Gildário estava passando uma crise sem precedentes com sua igreja, nas suas finanças, na sua alma, nas suas lembranças da infância. A sua auto-estima estava arrasada, os seus sonhos frustrados.

Antes de sua chegada havia uma expectativa no coração do Gildário de ser honrado e exaltado nesse novo campo. Ele tinha assumido há um ano e seis meses.

Havia passado por apuros em outros campos também. Já havia sido humilhado antes, experimentado apertos financeiros angustiantes também. Mas, ele venceu todos esses problemas e se considerava um vitorioso, afinal de contas não é qualquer um que constrói e deixa três igrejas repletas de ovelhas em áreas muito carentes, inclusive na zona rural, cuja resistência ao evangelho é muito maior no interior do nordeste. Até o prefeito, de um dos municípios que o Gildário pastoreou, se converteu, numa sinalização, segundo ele, da aprovação de Deus.

Quando chegou a Itaporanga – PB, encontrou uma igreja mantida, em grande parte, por um assistencialismo, que por si só é nocivo em virtude de legitimar uma dependência entranhada na cultura do sertanejo pobre, camada da população acostumada e adaptada a receber esmolas e paliativos.

Com a saída do antigo pastor, foi-se com ele também as verbas para as cestas básicas, para o combustível, indispensável ao carro que trazia as ovelhas da zona rural para o culto dominical.

Ele queria dar continuidade ao mesmo estilo de trabalho, só que não tinha nenhum lastro. Pela “fé”, passou a comprar fiado gasolina e a fazer feira para as ovelhas carentes. As dividas foram aumentando de uma forma tal que ele teve de vender o seu carro, para pagá-las.

Contudo ainda lhe restava os agiotas para pedir dinheiro emprestado. Pegava dinheiro a juros altíssimos para cobrir os cheques que passava sem a devida provisão de fundos. Uma ciranda financeira terrível impulsionada por uma necessidade de se afirmar como líder assistencialista, a exemplo do anterior. Também alimentada por uma necessidade de compensação para a sua carência de auto-aceitação, devido a sua infância extremamente pobre, em que as sombras da miséria e da fome sempre estavam pertos.

Ao perceber que a sua expectativa de ser exaltado e honrado no novo campo foi apenas uma ilusão. As ovelhas o rejeitavam de forma agressiva. Contrariado passou a ferir com palavras a todos, indiscriminadamente e a mandar recados através das pregações no púlpito. Abuso de poder indesculpável. Fato esse que, o mesmo, quando se deu conta do grave erro, pediu perdão de púlpito e individualmente ao rebanho.

Para Gildário se dá conta dos graves equívocos foi um processo longo e doloroso. Percebi que Deus tinha colocado ao meu lado uma pessoa que precisava de um acompanhamento especial. Não tinha um companheiro de oração inicialmente, mas um líder gravemente doente que precisava ser tratado.

Ele tinha um perfil semelhante a dos soldados do Exercito de Davi (1Sm 22.2): endividado, rejeitado, amargurado, desesperado. Pessoas que, quando valorizadas pelo seu líder, dão suas próprias vidas por ele ou pela causa. 

A primeira semana de oração e jejum foi exclusivamente para ouvir o Gildário. Ele chegava religiosamente todos os dias pela manhã, logo cedo.

Antes de começarmos a orar ele falava, falava, falava... Tudo que vinha em sua mente, principalmente, no inicio do acompanhamento. Compartilhava assuntos recentes e do passado, também acerca de fatos traumáticos ocorridos na sua infância.  Ao lembra de determinados assuntos chorava muito.

A sua mãe morreu quando ele tinha apenas cinco anos. O pai o abandonou e os avós paternos o acolheram como quem acolhe um escravo. Gildário foi treinado para ser um “burro de carga”. Trabalhava pela alimentação.

Nos momentos de oração perguntei se ele tinha magoa de alguém. Passou a lembra dos nomes. A lista foi imensa. Muita amargura, revolta. Enumeras pessoas foram amaldiçoadas por ele. Passamos várias horas, reparando as pragas e maldições, proferidas em momentos de grande ira e revoltas.

Seria impossível resgatar o Gildário sem um acompanhamento intensivo. Ele só não dormia na minha casa.

Seria impossível, também se não houvesse em seu coração um desejo forte de restauração, se não houvesse confiança absoluta da parte dele para comigo; se não houvesse amor, boa vontade, de minha parte.

Ninguém pode discipular e consolidar o outro com as ferramentas ideais se não for pelo Espírito Santo (1 Co 12.6-11).

Foram, inicialmente, na primeira fase, nove meses de acompanhamento. O maior desafio foi à libertação da necessidade fundamental e vital que Gildário tinha que era a de TER. Pensava que o dinheiro responderia a todas as necessidades. E seu complexo de pobre e rejeitado o levava de forma compulsiva para uma compensação na área de aparência: O TER em detrimento do SER. Foi sua maior luta.

Entender que o Senhor era o Deus da provisão para alguém que mal conseguia jejuar meio dia, porque no momento em que começava a sentir fome entrava em pânico devido aos traumas em decorrência da fome que passou na infância, era muito difícil.

Inclusive tentamos ajudá-lo na área financeira naquele momento, mas Deus tinha fechado as portas de uma forma radical. Ao entendermos isso passamos a confrontá-lo com a necessidade de descansar no Senhor que é o Deus da provisão. A impressão que eu tinha era como se fosse alguém extremamente dependente de uma droga e que precisava se desintoxicar.

Depois de nove meses de acompanhamento intensivo, Deus entregou a igreja, que antes o rejeitava, em suas mãos.

 No processo de oração em jejum o Senhor fez uma purificação na igreja extraordinária. Pessoas que estavam em prática sexual ilícita, chegaram ao pastor, de forma espontânea confessando o pecado alegando que não queriam continuar em tal pratica e estavam pedindo ajuda a Deus e a igreja.

Irmãos que resistiam de forma agressiva à sua liderança, chegando ao ponto de interromper a sua pregação com insultos em pleno culto, pediram perdão.

Mas, as portas das finanças ainda não tinham sido abertas até então. Foi quando o Pr. Gildário chega à sala da diretoria do Seminário Sertanejo, com um semblante semelhante aos primeiros dias que o vi quando da minha chegada em Itaporanga.

 De forma precavida e prudente convidei-o para sentar e contar as novidades. Ele desabafou:

- Essa historia de missões é conversa fiada. Tudo são ilusão e mentira. O dinheiro não chega, as feiras não chegam. O povo só faz nos enganar...

Depois de ouvi-lo perguntei o que estava acontecendo de fato. Ele então respondeu: - Estou passando por uma humilhação muito grande.  Peço um real a um e a outro para que o programa do rádio não acabe.

A igreja tinha um programa em uma radio comunitária, com duração de uma hora, um dia por semana, o valor mensal do espaço radiofônico era de cinqüenta reais.

Continuou Gildário a falar:

- Não tem dinheiro para usar o fusquinha do Seminário Sertanejo.

O nosso fusquinha estava à disposição de sua igreja. Devido a falta de dinheiro, era costume o Gildário colocar apenas um litro, às vezes só metade de um litro de gasolina no fusca. O frentista do posto passou a chamar o carro de zé gotinha.

            Ele conclui de forma pessimista:

- Está tudo errado, eu não sei mais em quem acreditar. Os homens estão segurando as bênçãos de Deus para a minha vida.

Diante da realidade passei a tentar leva-lo a uma reflexão lógica: se o dinheiro não vinha já há vários meses era porque Deus não estava no assunto. E sugeri ao Gildário que desistisse tanto do programa do radio quanto da ida a zona rural até que a situação financeira melhorasse. Ele gritou irado:

- Eu não desisto! Se desistir vão me chamar de covarde.

Insisti na analise racional dos fatos afirmando que não tinha lógica aquela teimosia. O Gildário muito bravo falou:

- Tem lógica sim. Eu vou continuar e pode dar o que der. Se desistir irão me chamar de derrotado. Eu não sou derrotado! Dirão que eu sou covarde. Eu não sou covarde! Deus querendo ou não querendo me ajudar, EU NÃO DESISTIREI!

Percebi que se tratava de algo alem da razão e da lógica. Aquietei-me e esperei Gildário se acalmar. Ele, mais tranqüilo ofereceu algo inesperado para mim. Disse:

- Me compre a rifa

Sem entender perguntei: que rifa? Ele respondeu:

- A rifa do galo.

Não comprei a tal rifa, mas fiquei impactado, sensibilizado com aquela realidade.

Escrevi um artigo e coloquei na internet. O conteúdo está abaixo e explica em detalhes como se deu essa historia do galo:



Você não deve ter ouvido falar de uma crente que morreu de fome no sertão do nordeste. Infelizmente essa é uma ponta saliente de um iceberg enorme que se chama Injustiça Sócial e que domina esse Brasil e de uma forma mais contundente o sertão nordestino.

Essa realidade tem reflexos na igreja Evangélica Sertaneja. Em muitas delas os dízimos mal chegam a 50 centavos ou 1 real por pessoa. Dízimo referente ao salário mínimo (hoje em torno de 260 reais), que aposentados e pensionistas recebem, é luxo.

Muitos não vão à igreja porque não têm uma sandália de dedo para calçar, outros por não terem roupas. Há casos em que, na mesma família, irmãos se revezam para irem à igreja: um vai num domingo e o outro no seguinte, já que existe apenas uma roupa de passeio para os dois.

Nesse contexto temos a igreja do pr. Gildário que arrecada 170 reais por mês e tem uma saída de 250 reais. Por causa desse déficit o pastor falou de forma melancólica para as suas poucas ovelhas que o programa do radio iria se acabar devido não haver condições de mantê-lo no ar e propôs que cada membro doasse 1 real para ajudar.

 Nessa campanha de arrecadação de dinheiro para pagar a mensalidade do programa do radio uma irmã do sitio Capim Grosso chamada Lourdes, sensibilizada por está interessada em continuar ouvindo a palavra de Deus via radio. Para ela era difícil a ida à igreja todo domingo por causa da distancia de 14 km que tem de percorrer até a cidade, combinou com Tota, seu marido, para doar um dos poucos galos que ela tinha no terreiro de sua casa.

Com o galo na mão chegou para o pastor Gildário e disse: “não quero que o programa de rádio se acabe, receba esse galo. É tudo o que posso dar, acho que o senhor pode fazer uma rifa dele e que Deus o abençoe”.

O que é que podemos fazer para que o programa do rádio não se acabe? para que as crianças possam ir à igreja com roupas dignas, que os adultos possam ir calçados aos cultos?.

Nós que fazemos o Seminário Sertanejo da Juvep, denunciamos, mas fazemos a nossa parte:

·         Atualmente estamos com mais de 45 alunos recebendo uma formação básica teológica.

·         12 alunos adultos sendo alfabetizados;

·         Trabalhamos a viabilização do “Kit Irrigação” que tem sido importante para o micro agricultor contemplado, pois tem possibilitado varias safras ao ano de feijão, arroz e milho;

·         Fazemos pontes e intercâmbios com varias igrejas parceiras na adoção de alunos e obreiros sertanejos trazendo melhoria salarial, plano de saúde, bolsa escolar, e etc.

·         Promovemos congressos, cursos, simpósios e seminários para a reciclagem do líder sertanejo.

Você pode participar dessa sublime obra missionária.

Isso lhe fará muito bem.



No amor de Jesus,



Pr. Pedro Luis da Silva

Diretor



Quando essa carta passou a circular na internet o retorno foi imediato. Varias ofertas de enumeras igrejas, das mais diversas cidades, até fora do Brasil chegaram para abençoar o sertanejo da região do Vale do Piancó, Sertão da Paraíba, área muito carente com uma população evangélica ainda pequena, principalmente na zona rural.

            As portas finalmente se abriram para o pr. Gildário. Nunca mais houve problema com falta de recursos. Deus passou a suprir.  Das vezes em que houve alguma dificuldade, posteriormente a esse momento marcante, foi devido a problemas administrativos. Mordomia mal realizada por ele.

            Agora, o melhor de tudo foi o que aconteceu antes da benção material começar a fluir para o Gildário: ele foi liberto do medo, dos traumas da infância, de ser refém de aparência, a necessidade do ter hoje é confrontada diariamente, em sua vida com o ser servo a serviço de Deus.

A libertação mais importante nele, foi da necessidade compulsiva de consumo numa relação direta com sua auto-aceitação e segurança em se relacionar com o próximo, principalmente com o poder aquisitivo superior ao dele.

Melhorou muito o seu relacionamento com Deus: a ênfase passou a ser de relacionamento pessoal com o Senhor numa perspectiva mais que ritualística – religiosa. Numa rendição plena ao Pai Celeste. Ele passou a orar com esse conteúdo:

- Que Deus faça o que for preciso em minha vida para que eu possa ser livre para servi-lo. Desiluda-me, arranque de mim o que não Lhe agrada e administre a minha vida sem reservas.

 Um homem livre a caminho da Liberdade maior, num processo contínuo de crescimento que culminará, inevitavelmente na glorificação pelo sacrifício da cruz.

Todo esse processo só é possível na direção do Espírito. Não haveria aproximação minha com o Gildário que resultasse em libertação, aprendizado recíproco sem a motivação do Espírito Santo.

Mas só teremos segurança de nos aproximarmos do outro se formos bem resolvidos com Deus e conosco mesmo. Do contrário é melhor ficar distante, pois só o servo cura o outro (Mt 12.15-19; 20.25-28; 23.11). O doente adoece o outro.



Enxergamos-nos e Crescemos na Crise




Só temos a nossa espiritualidade, santidade, maturidade espiritual provada nas crises. São nas crises que percebemos o nosso nível de tolerância, paciência, capacidade de perdoar e pedir perdão, profundidade no relacionamento com Deus, em quais bases e condições e motivações nos relacionamos com Ele.

É quando a luta financeira se instaura e o medo do amanhã, da perda de status, numa relação direta com o ter.

Quando Deus permite sermos caluniados. Pessoas que se levantam questionando a legitimidade do nosso ministério, ou profissão, numa insinuação que coloca em duvida a honestidade pela qual zelamos muito.

Só sabemos de nosso nível de maturidade quando os nossos tesouros são ameaçados; quando a enfermidade vem e nos faz sentir o cheiro da morte querendo atingir-nos ou a um ente querido. Provocando medos e inseguranças que pode nos fragilizar de forma grave.

Como temos reagido às crises?

Não se mede a espiritualidade de uma pessoa só pelas suas ações, mas principalmente pelas suas reações não premeditadas.