Chamado de Deus, Fé e Renúncia
Ida ao Campo Missionário
Quem está
disposto a abrir mão de seu conforto, estabilidade financeira, de sua família
em decorrência da Causa do Reino de Deus?
Quando
me converti, fiquei deslumbrado pelo Mestre. Estava totalmente
apaixonado.
O que aconteceu em meu interior foi maravilhoso. Lembro-me que falei a dois
irmãos o seguinte: “Nunca me comprometi totalmente com nada, mas agora quero envolver-me, ser servo de Jesus. O que Ele quiser. A obra dele em minha
vida é muito forte. Quero servi-Lo”.
Eu sempre tinha reservas a envolvimentos completos com movimentos seja social, político ou esportivo. Nenhum ideal , nem profissão preenchia-me, era como se dentro de mim houvesse um mecanismo, um sensor que me detinha. Achava que estava faltando algo.
Participei por três anos do Movimento Negro em João Pessoa- PB. Um amigo, militante da causa contra o racismo, abriu portas, adentrei. Tive envolvimento com o PT, ainda embrionário, no início dos anos 80.
Eu sempre tinha reservas a envolvimentos completos com movimentos seja social, político ou esportivo. Nenhum ideal , nem profissão preenchia-me, era como se dentro de mim houvesse um mecanismo, um sensor que me detinha. Achava que estava faltando algo.
Participei por três anos do Movimento Negro em João Pessoa- PB. Um amigo, militante da causa contra o racismo, abriu portas, adentrei. Tive envolvimento com o PT, ainda embrionário, no início dos anos 80.
Era
como se faltasse algo, um detalhe, não conseguia assumir um compromisso maior. Se contribuía com algo, não era com prazer.
O Soldado Doente
Voluntário
O
encontro com Jesus foi marcante. As pessoas em geral falam em chamado. Estou tendo
um chamado! Ou, eu não tenho chamado! Comigo não deu tempo de saber se tinha ou
não um chamado. Eu me ofereci. Queria servir ao Mestre, ao meu Salvador.
Acerca
desse assunto, me lembro de um fato: foi no alistamento militar, quando me apresentei no quartel. No início queria servir ao Exército, mas, durante o process, mudei de ideia, então fui colocado no
pelotão dos que podiam ser chamados para completarem outro pelotão, se houvesse
necessidade, por impossibilidade, na última hora, de algum já selecionado.
Lembro-me que ficamos mais de três horas perfilados, em forma,
com um sol forte sobre nossa cabeça, neste processo.
Em nosso
meio havia um rapaz, aparentando ser um pouco mais velho que os demais. Era
costume no interior da Paraíba registrarem os filhos muito depois de seu
nascimento e, invariavelmente se colocava a data de nascimento anos abaixo ou
acima da idade real, ou por ignorância dos pais ou por motivos desonestos. Um
dos motivos era para conseguir alistar essas pessoas
nas emergências da seca promovida pelo governo.
Aquele rapaz queria muito servir as Forças Armadas. Quando chegou o tenente perguntando quem ainda queria servir, já que havia 3 vagas a serem preenchidas, ele foi o primeiro a se apresentar: “Eu quero!” O tenente, já sabia do caso dele e falava: “Você não, você não pode”, mas ele insistia: “Eu quero, eu amo o Exército, quero ficar!” O tenente respondeu: “Você é doente rapaz, o regimento não pode ter doentes em suas fileiras!” Ele voltava muito triste a sua posição. Por três vezes o tenente convocou voluntários daquele pelotão, todas as vezes aquele homem se oferecia, e o tenente dizia: “Você não, você é doente!”.
Aquele rapaz queria muito servir as Forças Armadas. Quando chegou o tenente perguntando quem ainda queria servir, já que havia 3 vagas a serem preenchidas, ele foi o primeiro a se apresentar: “Eu quero!” O tenente, já sabia do caso dele e falava: “Você não, você não pode”, mas ele insistia: “Eu quero, eu amo o Exército, quero ficar!” O tenente respondeu: “Você é doente rapaz, o regimento não pode ter doentes em suas fileiras!” Ele voltava muito triste a sua posição. Por três vezes o tenente convocou voluntários daquele pelotão, todas as vezes aquele homem se oferecia, e o tenente dizia: “Você não, você é doente!”.
Um Crente Oferecido, não
Chamado
Eu não
sei exatamente o que levava aquele jovem a desejar tanto servir no quartel, se
era porque achava bonita a vida militar ou porque não tinha expectativa de
emprego e teria no quartel um salário garantido, naquele ano de
serviço militar. Aliás tempo difíceis no Brasil, no ano de 1984, crepúsculo da ditadura militar, desemprego e inflação altíssima.
A insistência dele foi uma excelente ilustração para o que sinto em relação ao compromisso missionário.
Eu sou oferecido, apaixonadamente oferecido e disse ao meu Senhor: Eis-me aqui! Era exatamente aquilo que buscava, tinha certeza que era o ideal perfeito, mesmo estando ainda doente de alma, aleijado, ferido devido a um processo doloroso para a conversão; independente do processo, a própria natureza pecaminosa desqualificava-me.
No Exército de Deus ninguém é rejeitado, todos são aproveitados, mas antes tratados, curados.
A insistência dele foi uma excelente ilustração para o que sinto em relação ao compromisso missionário.
Eu sou oferecido, apaixonadamente oferecido e disse ao meu Senhor: Eis-me aqui! Era exatamente aquilo que buscava, tinha certeza que era o ideal perfeito, mesmo estando ainda doente de alma, aleijado, ferido devido a um processo doloroso para a conversão; independente do processo, a própria natureza pecaminosa desqualificava-me.
No Exército de Deus ninguém é rejeitado, todos são aproveitados, mas antes tratados, curados.
Renúncia e Privações
A renúncia
inicial foi o evitar ambientes poluídos de cargas eróticas elevadas, locais de
consumo de drogas legais e ilegais que frequentava, mas a definição de viver
totalmente em função da obra só se deu 6 anos depois.
Deus trabalha de forma responsável e organizada. Muitas vezes seus projetos com e para os indivíduos são realizados, quase sempre, a médio e a longo prazo.
Pulando alguns anos, já casado com Sueli, no ano de 1995 saímos de um poder aquisitivo de 15 salários mínimos para dois salários, mas tínhamos a convicção de que Deus estava no controle do processo.
Deus trabalha de forma responsável e organizada. Muitas vezes seus projetos com e para os indivíduos são realizados, quase sempre, a médio e a longo prazo.
Pulando alguns anos, já casado com Sueli, no ano de 1995 saímos de um poder aquisitivo de 15 salários mínimos para dois salários, mas tínhamos a convicção de que Deus estava no controle do processo.
Morávamos em
João Pessoa, já eramos pais de Daniel, depois nasceu a Rebeca. Tivemos muita dificuldade de nos adaptarmos á nova realidade
financeira, principalmente Sueli, minha esposa. Naquela época, era difícil
comprar cosméticos e até roupas íntimas sem comprometer a feira de alimentação, contudo, Deus foi suprindo gradativamente as nossas necessidades. Até
que 5 anos depois já estávamos com o poder aquisitivo semelhante ao
anterior, vivendo um momento interessante como professores do Seminário da
Juvep, a missão que nos recebeu como missionários, uma agência missionária plantadora de igreja no sertão do nordeste brasileiro.
Fazíamos
parte da diretoria da agência missionária e estávamos tendo uma participação
com uma certa evidência. Estávamos sendo convidados para pregar em várias
partes do Brasil como resultado de um claro reconhecimento de nosso
ministério.
Vivíamos um bom momento ministerial e econômico. Tínhamos comprado um apartamento em um bairro central da capital da Paraíba, financiando uma pequena parte.
Todo este processo está resumido aqui. de 95 até este momento confortável, o processo não foi confortável, muita privação, humilhação, solidão, incompreensão, mas, Deus compensando, consertando, dando graça no processo.
Vivíamos um bom momento ministerial e econômico. Tínhamos comprado um apartamento em um bairro central da capital da Paraíba, financiando uma pequena parte.
Todo este processo está resumido aqui. de 95 até este momento confortável, o processo não foi confortável, muita privação, humilhação, solidão, incompreensão, mas, Deus compensando, consertando, dando graça no processo.
Morrer por Cristo no Timor
Leste
Na
mesma época, recebi um convite para ir ao Timor Leste fazer
uma pesquisa, em um período de três meses, objetivando identificar o perfil evangélico daquela nação.
Me senti privilegiado. O País estava passando por um momento difícil em sua história como país recém independente. A população, em um plebiscito organizado pela ONU, votou pela independência da Indonésia. Como reação, parte do povo indonésio invadiu o território timorense, e destruíram a picaretadas e marretadas, boa parte dos prédios da capital Díli e outras cidades, com muitas mortes.
Me senti privilegiado. O País estava passando por um momento difícil em sua história como país recém independente. A população, em um plebiscito organizado pela ONU, votou pela independência da Indonésia. Como reação, parte do povo indonésio invadiu o território timorense, e destruíram a picaretadas e marretadas, boa parte dos prédios da capital Díli e outras cidades, com muitas mortes.
Naquele
período havia ainda risco de invasões. O contexto levou-me a reflexão. Um misto de
prazer e medo por está numa possibilidade de envolver-me num contexto
de risco de vida por causa do Evangelho, por causa de Jesus.
Nesse
ínterim, acordo em um determinado sábado sozinho – Sueli tinha ido a um projeto
de evangelismo no interior de Alagoas.
Despertei com uma forte tristeza e uma sensação de vazio e angústia em minha alma. Entendia que estava servindo ao Senhor naqueles dias, mas aquela inquietação mexia comigo intensamente. Não comi nada, só orei. Queria entender o que estava acontecendo em mim.
Despertei com uma forte tristeza e uma sensação de vazio e angústia em minha alma. Entendia que estava servindo ao Senhor naqueles dias, mas aquela inquietação mexia comigo intensamente. Não comi nada, só orei. Queria entender o que estava acontecendo em mim.
À
noite, o Espírito Santo me fez compreender o momento espiritual. A
sensação de privilégio por estar sendo levado a uma área de risco, em uma nação
sob ameaça de guerra, se transformou em um confronto. Era como se Deus me
falasse assim: Você se sente privilegiado em correr o risco de morrer por minha causa,
mas como está vivendo no dia-a-dia? Como tem se relacionado comigo, qual o
nível de oração na dimensão de tempo e qualidade, de comunhão? Uma
relação pessoal profunda ou apenas religiosa baseada em
troca? Você é digno de morrer por minha causa?
Esse
confronto perturbou-me ainda mais. Passei o domingo procurando um escape, uma
saída para o confronto dentro de mim.
Só sabemos quem somos, como estamos, e qual é o nosso nível de espiritualidade quando passamos por crises.
Só sabemos quem somos, como estamos, e qual é o nosso nível de espiritualidade quando passamos por crises.
Sueli
chegou no meio da tarde do domingo do evangelismo em Alagoas, o Projeto
Missionário havia terminado. A primeira coisa que ela disse quando me viu:
“eu estou arrasada, me sentindo frustrada. Vi pessoas no evangelismo, tão
comprometidas, abnegadas, totalmente envolvidas com o Reino de Deus. Estou me
sentindo uma inútil”. Os seus sentimentos identificavam-se com os meus. Deus falou a mesma
coisa em nossos corações embora de forma diferente.
Naquela
noite ficamos em casa. Depois que as crianças foram dormir,
sentamo-nos à mesa da sala e começamos a orar. Colocamos diante de
Deus todos os nossos sonhos, projetos, bens espirituais e bens materiais, os filhos e o casamento. Renovamos nossa fé, nosso compromisso, pacto com o
nosso Salvador e Senhor. Um novo começo, uma nova etapa, uma nova percepção.
Na
segunda-feira brotou em nossos corações o desejo de sermos missionários no
sertão do nordeste, embora não soubéssemos onde exatamente, tínhamos a
convicção desse direcionamento de Deus para as nossas vidas. A ida ao Timor
Leste foi adiada, até hoje não aconteceu. Provavelmente, foi apenas um expediente de Deus
para promover uma reviravolta em nossas vidas.
A lógica
para Deus nem sempre funciona.
A nossa convicção de ida ao sertão era tão forte que
pensamos em renunciar a todos os nossos compromissos de imediato, mas Deus nos
fez entender que não era para ser uma ação imediata. Havia ainda alguns acertos
para acontecer.
Um mês
depois compartilhei com o presidente da agência missionária da qual fazíamos
parte, desse direcionamento trazido por Deus para as nossas vidas : ‘de irmos
trabalhar no sertão. Ele questionou com os seguintes termos: “Pedro, você está vivendo o melhor
momento como participante da diretoria da Missão, está sendo aprovado como
professor de uma das mais difíceis turmas de quarto ano, no bacharel em
Teologia, que o seminário já teve; tem sido convidado e reconhecido
com um líder e pesquisador, por várias igrejas em várias partes do Brasil. Tem
certeza que é de Deus esse direcionamento?”
Essas
palavras colocaram em cheque as minhas convicções. Não era lógico. Eu estava
realmente sendo útil para o Reino e vivia um momento
estável ministerial e financeiro.
Sentado
em minha rede, na varanda do nosso apartamento recentemente adquirido,
perguntei a Jesus: Será que nos confundimos, foi apenas emoção? Mas, o
Espírito de Deus falou fortemente ao meu coração com a conclusiva pergunta : E tudo isso comparado a
minha vontade?
O meu
grande medo e frustração não era perder o contato com as lideranças
e igrejas que se relacionavam comigo, possibilitando convites para
pregações e intercâmbios, nem perder o prazer de estar em sala de aula, nem tão
pouco, abrir mão de morar numa cidade de porte médio, com os confortos naturais, de sair do recém comprado apartamento (sonho de todo casal). O que eu não queria passar novamente, era por privações
financeiras, como passamos no inicio do ministério. Por isso achava que pela
lógica sairia de João Pessoa com a renda familiar garantida.
Essa percepção
me fazia descartar a possibilidade de assumir o Centro de Treinamento de
Lideres do Sertão – CTL´S, seminário alternativo que a JUVEP tinha em
Itaporanga-PB, município localizado no sertão, região semi-árida. Era a única alternativa de trabalho permanente que a
Juvep tinha no sertão, naquela época.
Eu pensava que assumiria uma igreja em uma das cidades pólo no sertão. As portas não se abriam nessa direção.
A missionária que estava à frente do Seminário sertanejo provocava-me de uma forma inexplicável com este desafio: "Estou orando por vocês para assumirem o CTL´S". Eu ria e tremia ao mesmo tempo.
Eu pensava que assumiria uma igreja em uma das cidades pólo no sertão. As portas não se abriam nessa direção.
A missionária que estava à frente do Seminário sertanejo provocava-me de uma forma inexplicável com este desafio: "Estou orando por vocês para assumirem o CTL´S". Eu ria e tremia ao mesmo tempo.
Quando
falava com o Sérgio Freitas Ribeiro, presidente da Juvep, perguntando sobre
alternativas no sertão, ele sugeria o CTL´S.
Quando
perguntava se havia manutenção definida, a negativa me fazia rejeitar o CTL´S.
Pensava eu: Deus não vai querer que eu passe por dificuldades financeira de novo. Ledo engano, pelo fato de já ter
sido aprovado, Deus sabia que podia contar comigo no dar um novo passo de fé.
Era o CTL´S que nos aguardava.
De inicio
a decisão em ir a Itaporanga teria como conseqüência a perda salarial de mais
de sessenta por cento de nossa renda. Quando decidimos aceitar o desafio do
CTL´S houve algumas reações estranhas de alguns colegas de ministério.
Exclamações do tipo: "Você está louco"?! "Estou com uma inveja santa de sua
decisão em ir morar no sertão, mas se Deus ordenasse a minha ida, mesmo
assim eu não iria"! Para mim foi uma surpresa, achava que todos que estão na
obra são comprometidos de forma ampla e incentivavam quem tinha um chamado.
Pisando o Jordão
Acreditávamos
que na nossa chegada, Deus iria abrir as portas financeiras imediatamente. Não
foi bem assim. Com menos de um mês recebemos a notícia de que a igreja que
mandava a maior oferta para o nosso ministério, gentilmente nos informava que
não poderia estar nos sustentando, deixou-nos gradativamente. O e-mail comunicando o final da parceria, foi como um balde de água fria em
nossas convicções, mas não nos deixamos abalar. A convicção de estar no centro
da vontade de Deus era maior que o aparente revés em nosso início de caminhada
no sertão.
Com
aquela decisão da igreja, a nossa perda salarial aumentou
para setenta e cinco por cento. Se Deus não agisse a tempo teríamos que vender
o automóvel, colocar as crianças na falida escola pública brasileira.
Estávamos
sendo provados de novo na área financeira. Se nossos referenciais e
valores na relação com Deus fossem baseados em referências materiais, com
certeza, teríamos entrado em crise. E inevitavelmente concluiríamos: "pisamos no Jordão" e ele não se abriu! Demos o passo de fé e não fomos honrados!
Sabíamos
que o fazer a vontade de Deus, necessariamente, não implica em fartura,
conforto ou honras do ponto de vista humano, nem de interesses entranhados e
atrelados ao consumismo e à valorização do ter em detrimento do ser, tão forte
em nossa realidade sócio-cultural.
Combinamos vender
o carro, se dentro de quinze dias, após o comunicado da igreja mantenedora, as
portas não se abrissem. Foi quando recebemos um depósito de uma pessoa anônima
em nossa conta bancária dentro do prazo. Deu para pagar nove meses da prestação
do carro.
Deus, ao
longo do primeiro ano no sertão, foi levantando novos mantenedores
gradativamente e a nossa renda, embora nunca tenha voltado ao nível de antes,
sempre foi suficiente para suprir as nossas necessidades básicas. Podemos
dizer: Ele é fiel, organizado e responsável. O Senhor não permite processos que
não podemos suportar. Todas as coisas estão sob o seu controle ( Rm 8.28).
A questão
fundamental: independente de conforto ou não, saúde ou não, segurança ou não,
honra ou não (Fp 4.13-21), o principal é estar na posição de servo, submisso,
buscando discernir qual à vontade do Senhor. Para isso é necessário renúncia,
nos rendermos totalmente à vontade de Deus, Pai de Jesus Cristo, agente e
comandante da propagação de seu reino em toda a terra, realidade inevitável que
se confronta com todos os valores deste século.
Pedro Sertão Silva
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