Sem o Espírito Santo não há obra de Deus - I
O Espírito Santo Companheiro Fundamental na Caminhada Cristã
At. 1.8
At. 1.8
É muito fácil
transparecer uma religiosidade, uma espiritualidade de forma premeditada. É só
nos preparar previamente. Não é difícil quando vamos à igreja e participamos de
eventos específicos, ligados a fé. É fácil ter um discurso evangélico no
púlpito, cumprimentar o irmão, abraçando-o sensibilizados quando o corinho que
fala de unidade é cantado.
Difícil é no
dia–a–dia, na rotina diária. Nessa dimensão só se coloca em pratica o que
verdadeiramente estar no coração e já faz parte, portanto, de nossa realidade
de caráter e alma, sem disfarce.
Os filhos,
irmãos, o cônjuge e os amigos íntimos conhecem bem a nossa espiritualidade.
A propósito:
Vencer as limitações carnais deve ser um desafio primeiramente na intimidade da
família, com os mais íntimos. Se conseguirmos colocar em pratica um
cristianismo autêntico na relação com os mais achegados, com aqueles que
convivemos diuturnamente, facilmente seremos benção a outras pessoas.
Martinho
Lutero que o diga: “Quem conhece o
nível de minha espiritualidade é a minha esposa”.
No processo do
discipulado é muito importante o acompanhamento do mestre ao discípulo na
intimidade. Contudo, muitos líderes têm dificuldades de praticar essa dimensão de
acompanhamento e isso se deve principalmente em decorrência da falta da valorização
de uma proximidade com os discípulos. Ou por ignorância: cada uma dar o que
tem, ou por insegurança: Não é fácil se expor, o outro vai perceber o meu
defeito.
Muitos de nossos
líderes sofrem por limitações na área de relacionamento.
A fragilidade
de caráter encoberta por capas frágeis trazidas por propostas religiosas de
conveniências, atreladas à máxima: Agrademos as ovelhinhas para que o
rebanho aumente, tem forjado líderes fúteis que não suportam o confronto
nem têm estrutura para tratar de forma profunda seus discípulos.
Atualmente uma das razões mais freqüente de desistência,
fechamento ou falta de crescimento qualitativo nos campos implantados pelas
igrejas evangélicas, tem sido o nível de preparo do obreiro designado.
Refiro-me a um despreparo estrutural emocional; isso envolve
caráter, experiência de vida. Às vezes são enviadas ao campo pessoas recém
saídas de seminários, sem caminhada alguma. A ultima atividade prática foi ter
concluído o segundo grau, nunca se submeteram as autoridades, não sabem as
manhas que estão atreladas ao poder, à política eclesial.
O lidar com pessoas de personalidades complexas também
exige aspectos de aprendizados que não se encontra de forma clara na bíblia e
nem se aprende em seminário, escolas limitadas a uma proposta meramente
teórica.
A labuta do dia-a-dia, humilhações do chefe, o medo de
perder o emprego, a necessidade de submissão, por exemplo, pode forjar o
caráter, amadurecer a pessoa, promovendo a disciplina.
Quase sempre temos enviado ao campo pessoas despreparadas
como pessoas, para liderarem pessoas.
Temos colocado a mão de forma precipitada nas cabeças de
pastores ainda mal resolvidos com o poder, o controle de pessoas, com fama, com
dinheiro. Pessoas que oprimem e ferem em nome da hierarquia.
Muitos desses homens e mulheres que foram e ainda está indo
ao campo, enviados por agencias missionárias e igrejas, são mal resolvidos
quanto a sua sexualidade. Problemas de abuso sexual dentro da própria família,
na escola ou com vizinhos, homossexualismo, traumas, bloqueios, conflitos de
uma forma geral que compromete sua relação social de forma mais ampla.
Boa parte de
nossa liderança sofre de algum tipo de conflito ou desequilíbrio que os fazem
recuar e se isolarem.
É fácil expor
uma proposta ideal “encastelado” em um púlpito ou dar aconselhamento atrás da
“armadura” e “escudo” de um gabinete pastoral.
Essa reflexão
me ajudou muito no processo de chegada ao sertão da Paraíba. Sabia que sem a
proximidade com os meus alunos e com àqueles que naturalmente estariam mais
perto com o objetivo de aprenderem comigo e, naturalmente, eu com eles, não
haveria a fundamental influencia recíproca, principio importante no processo de
discipulado.
O marco de
nossa caminhada nessa proposta consciente foi quando em uma meia vigília em
plena caatinga, tendo por teto, as milhares de estrelas em um sertão para mim
ainda estranho, difícil de decodificar, de adentrar, como que espinhos das
juremas e dos mandacarus intimidando o vaqueiro de penetrar a selva na busca do
boi perdido. Vaqueiro pouco experiente como eu, sem costume de caminhar nas
terras áridas do interior da Paraíba.
Lembro-me que,
naquela noite, eu passei a sentir o cheiro do sertão de uma forma diferente, a
fragrância era forte, mas agradável, porem conflitante, um misto de suor,
poeira, sangue, fé, raça, esperança, lagrimas, sonhos, desalento, imobilidade,
opressão, repressão, conformismo, espinhos, flores, maldições, promessas,
preces... Como dizia o poeta “A minha gente hoje anda falando pro lado e
olhando pro chão...”1 A
democracia ainda não chegou ao sertão.
Eu acabara de chegar para assumir a
Seminário Sertanejo que na época se chamava CTL´S – Centro de Treinamento de
Lideres do Sertão, tendo por companhia, naquele momento de oração dois
abençoados nativos da caatinga. Um era o Gildário, o risadinha, mais tarde
conhecido como o “pastor do galo” um ser para mim estranhíssimo com um discurso
confuso e uma necessidade de ser aceito como poucos.
O outro era O
Vildomar; antes da conversão, extremamente violento, agressivo com tudo e com
todos, ficou órfão, ainda na infância, o pai foi assassinado barbaramente.
Antes de
estarmos na mata em oração, conversávamos, nós três, numa das poucas praças
publicas de Itaporanga - cidade sede do Seminário Sertanejo e discutíamos a
possibilidade de nossa saída para abrirmos outra escola noutra cidade, em curto
prazo de tempo. Foi quando o Vildomar de maneira inesperada grita com todas as
forças:
- Meu Deus
Você vai me abandonar de novo? Eu não já fui humilhado de mais, rejeitado
demais não?
Ele chorava
muito, em plena praça e bradava:
- Não deixa o
irmão Pedro ir embora não!
Vendo um sertanejo da gema, cabra macho! Se
esvaindo em lágrimas, publicamente. Vim a entender a importância do
acompanhamento bem próximo dos obreiros da região. Tenho chamado isso de
Teologia do Abraço
Uma proposta alternativa, não convencional que se revela no
acompanhamento, através dos aconselhamentos e discipulado de uma forma
geral.
Na grande maioria dos casos, os líderes radicados nas
pequenas comunidades, seja zona urbana ou rural, nativos ou oriundos de grandes
centros, são praticamente abandonados no seu acompanhamento espiritual. Uma
grande lacuna que compromete o desempenho ministerial. Passamos a defender a teologia do abraço onde afirmamos que um par de braços para
abraçar, dois ouvidos para ouvir atentamente, dois olhos para prestar atenção e
um coração para se solidarizar com a carência, dor, medos dos líderes evangélicos
sertanejos valem mais que mil palavras.
Encontramos lideres, em nossa chegada, arrebentados
emocionalmente, espiritualmente e financeiramente, outros com problemas graves
no casamento, alguns sem a mínima condição de estarem no campo, porém reféns de
salário e de conceitos humanos do tipo: “O que irão pensar de mim? Eu não sou
um derrotado...”.
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