Pedro Sertão Silva

Pensamentos, reflexões, exposição de ideias, imagens...Uma visão num ângulo particular. No sertão da Paraíba fazendo o bem.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Sem o Espírito Santo não há obra de Deus - I

O Espírito Santo Companheiro Fundamental na Caminhada Cristã
At. 1.8 

É muito fácil transparecer uma religiosidade, uma espiritualidade de forma premeditada. É só nos preparar previamente. Não é difícil quando vamos à igreja e participamos de eventos específicos, ligados a fé. É fácil ter um discurso evangélico no púlpito, cumprimentar o irmão, abraçando-o sensibilizados quando o corinho que fala de unidade é cantado.

Difícil é no dia–a–dia, na rotina diária. Nessa dimensão só se coloca em pratica o que verdadeiramente estar no coração e já faz parte, portanto, de nossa realidade de caráter e alma, sem disfarce.

Os filhos, irmãos, o cônjuge e os amigos íntimos conhecem bem a nossa espiritualidade.

A propósito: Vencer as limitações carnais deve ser um desafio primeiramente na intimidade da família, com os mais íntimos. Se conseguirmos colocar em pratica um cristianismo autêntico na relação com os mais achegados, com aqueles que convivemos diuturnamente, facilmente seremos benção a outras pessoas.

Martinho Lutero que o diga: “Quem conhece o nível de minha espiritualidade é a minha esposa”.

No processo do discipulado é muito importante o acompanhamento do mestre ao discípulo na intimidade. Contudo, muitos líderes têm dificuldades de praticar essa dimensão de acompanhamento e isso se deve principalmente em decorrência da falta da valorização de uma proximidade com os discípulos. Ou por ignorância: cada uma dar o que tem, ou por insegurança: Não é fácil se expor, o outro vai perceber o meu defeito.

Muitos de nossos líderes sofrem por limitações na área de relacionamento.

A fragilidade de caráter encoberta por capas frágeis trazidas por propostas religiosas de conveniências, atreladas à máxima: Agrademos as ovelhinhas para que o rebanho aumente, tem forjado líderes fúteis que não suportam o confronto nem têm estrutura para tratar de forma profunda seus discípulos.

Atualmente uma das razões mais freqüente de desistência, fechamento ou falta de crescimento qualitativo nos campos implantados pelas igrejas evangélicas, tem sido o nível de preparo do obreiro designado.

Refiro-me a um despreparo estrutural emocional; isso envolve caráter, experiência de vida. Às vezes são enviadas ao campo pessoas recém saídas de seminários, sem caminhada alguma. A ultima atividade prática foi ter concluído o segundo grau, nunca se submeteram as autoridades, não sabem as manhas que estão atreladas ao poder, à política eclesial.

O lidar com pessoas de personalidades complexas também exige aspectos de aprendizados que não se encontra de forma clara na bíblia e nem se aprende em seminário, escolas limitadas a uma proposta meramente teórica.

A labuta do dia-a-dia, humilhações do chefe, o medo de perder o emprego, a necessidade de submissão, por exemplo, pode forjar o caráter, amadurecer a pessoa, promovendo a disciplina.

Quase sempre temos enviado ao campo pessoas despreparadas como pessoas, para liderarem pessoas.

Temos colocado a mão de forma precipitada nas cabeças de pastores ainda mal resolvidos com o poder, o controle de pessoas, com fama, com dinheiro. Pessoas que oprimem e ferem em nome da hierarquia.

Muitos desses homens e mulheres que foram e ainda está indo ao campo, enviados por agencias missionárias e igrejas, são mal resolvidos quanto a sua sexualidade. Problemas de abuso sexual dentro da própria família, na escola ou com vizinhos, homossexualismo, traumas, bloqueios, conflitos de uma forma geral que compromete sua relação social de forma mais ampla.

Boa parte de nossa liderança sofre de algum tipo de conflito ou desequilíbrio que os fazem recuar e se isolarem.

É fácil expor uma proposta ideal “encastelado” em um púlpito ou dar aconselhamento atrás da “armadura” e “escudo” de um gabinete pastoral.

Essa reflexão me ajudou muito no processo de chegada ao sertão da Paraíba. Sabia que sem a proximidade com os meus alunos e com àqueles que naturalmente estariam mais perto com o objetivo de aprenderem comigo e, naturalmente, eu com eles, não haveria a fundamental influencia recíproca, principio importante no processo de discipulado.

O marco de nossa caminhada nessa proposta consciente foi quando em uma meia vigília em plena caatinga, tendo por teto, as milhares de estrelas em um sertão para mim ainda estranho, difícil de decodificar, de adentrar, como que espinhos das juremas e dos mandacarus intimidando o vaqueiro de penetrar a selva na busca do boi perdido. Vaqueiro pouco experiente como eu, sem costume de caminhar nas terras áridas do interior da Paraíba.

Lembro-me que, naquela noite, eu passei a sentir o cheiro do sertão de uma forma diferente, a fragrância era forte, mas agradável, porem conflitante, um misto de suor, poeira, sangue, fé, raça, esperança, lagrimas, sonhos, desalento, imobilidade, opressão, repressão, conformismo, espinhos, flores, maldições, promessas, preces... Como dizia o poeta “A minha gente hoje anda falando pro lado e olhando pro chão...”1 A democracia ainda não chegou ao sertão.

 Eu acabara de chegar para assumir a Seminário Sertanejo que na época se chamava CTL´S – Centro de Treinamento de Lideres do Sertão, tendo por companhia, naquele momento de oração dois abençoados nativos da caatinga. Um era o Gildário, o risadinha, mais tarde conhecido como o “pastor do galo” um ser para mim estranhíssimo com um discurso confuso e uma necessidade de ser aceito como poucos.

O outro era O Vildomar; antes da conversão, extremamente violento, agressivo com tudo e com todos, ficou órfão, ainda na infância, o pai foi assassinado barbaramente. 

Antes de estarmos na mata em oração, conversávamos, nós três, numa das poucas praças publicas de Itaporanga - cidade sede do Seminário Sertanejo e discutíamos a possibilidade de nossa saída para abrirmos outra escola noutra cidade, em curto prazo de tempo. Foi quando o Vildomar de maneira inesperada grita com todas as forças:

- Meu Deus Você vai me abandonar de novo? Eu não já fui humilhado de mais, rejeitado demais não?

Ele chorava muito, em plena praça e bradava:

- Não deixa o irmão Pedro ir embora não!

 Vendo um sertanejo da gema, cabra macho! Se esvaindo em lágrimas, publicamente. Vim a entender a importância do acompanhamento bem próximo dos obreiros da região. Tenho chamado isso de Teologia do Abraço

            Uma proposta alternativa, não convencional que se revela no acompanhamento, através dos aconselhamentos e discipulado de uma forma geral. 

Na grande maioria dos casos, os líderes radicados nas pequenas comunidades, seja zona urbana ou rural, nativos ou oriundos de grandes centros, são praticamente abandonados no seu acompanhamento espiritual. Uma grande lacuna que compromete o desempenho ministerial.  Passamos a defender a teologia do abraço onde afirmamos que um par de braços para abraçar, dois ouvidos para ouvir atentamente, dois olhos para prestar atenção e um coração para se solidarizar com a carência, dor, medos dos líderes evangélicos sertanejos valem mais que mil palavras.

Encontramos lideres, em nossa chegada, arrebentados emocionalmente, espiritualmente e financeiramente, outros com problemas graves no casamento, alguns sem a mínima condição de estarem no campo, porém reféns de salário e de conceitos humanos do tipo: “O que irão pensar de mim? Eu não sou um derrotado...”.

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